Crítica a «Horrores da Mente», de Fábio Santos e Elisabete Fernandes
Uma coletânea de pesadelos que une a arte visual à escrita.
A diminuta dimensão desta obra permite uma leitura rápida, mas nem sempre as histórias são tão imersivas quanto poderiam ser.
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Não há dúvida de que a mente consegue, simultaneamente, ser das coisas mais fascinantes e aterrorizantes do ser humano. No meu caso, desde muito pequena que o meu cérebro dedica as noites aos pesadelos (dos mais estúpidos aos mais assustadores), fazendo-me acordar em pânico e com ideias para histórias.
Fábio Santos aproveita, precisamente, os seus pesadelos para criar esta coletânea de contos, sendo alguns dos momentos-chave ilustrados pela mão de Elisabete Fernandes.
Os pontos positivos da obra prendem-se com as histórias dos contos em si — umas mais cativantes do que outras, naturalmente, mas muitas delas a explorarem diversas vertentes do horror, com elementos mais ou menos gráficos e, inclusive, algumas ligações entre contos que não deixam de ser curiosas.
Algumas das ideias são extremamente originais, ao ponto de não conseguir imaginar, de todo, o seu desenvolvimento, o que foi uma surpresa extremamente bem-vinda.
Apesar disso, a forma como o autor optou por narrar as suas histórias torna-se num desserviço, porque os contos acabam todos por ter o mesmo tom e voz. Não há distinção entre personagens ou contextos, sendo tudo sempre narrado na terceira pessoa, e ficamos com a sensação de que alguém está, literalmente, a fazer-nos o resumo de algo.
Desconheço se existirá alguma palavra ou expressão para descrever o que senti, portanto fá-lo-ei desta forma: sabem quando estão a falar com alguém e lhe perguntam a história de um livro? E a pessoa responde: «É sobre o Carlos da Maia, que volta a Lisboa e conhece a Maria Eduarda no Hotel Central, por quem se apaixona. Mas depois descobrem que são irmãos e, pronto, separam-se e é muito dramático.» Foi esta a sensação que tive ao longo da obra toda — de que alguém estava a relatar-me, de forma resumida, uma história.
Por vezes, alguns dos elementos nem pareciam fazer sentido até a história avançar, o que me fez questionar se as histórias teriam sido transcritas da mente para o papel sem limar arestas ou se esses elementos ali apareciam precisamente numa tentativa de encaixar ideias desconjuntadas, que é o que tende a acontecer quando sonhamos.
Seja como for, as ideias por trás dos contos eram interessantes, mas a sua execução nunca deixou que me «afogasse» nas palavras como se eu fosse um elemento intrínseco à história.
No fundo, acho que o autor nos contou, mas não nos mostrou os seus pesadelos, o que é uma pena, precisamente porque acaba por lhes retirar impacto.
A edição e a revisão também precisam de alguns ajustes, mas, numa editora independente, tal não é (infelizmente) de estranhar, precisamente porque os recursos financeiros são demasiado diminutos para fazer frente àquilo de que o mercado necessita.
Independentemente disso, Horrores da Mente tem algumas pérolas que ficariam muito bem numa curta ou longa-metragem, permitindo que o elemento visual colmatasse algumas das falhas sentidas ao longo da leitura.
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Laura Silva
Apaixonada por histórias desde 1992, é escritora nas horas vagas e pasteleira aos fins-de-semana. O gosto pela leitura deu muito jeito para a licenciatura em Direito, mas agora é constantemente abordada por amigos e familiares para consultoria jurídica gratuita. Extremamente traumatizada em criança pelo Cadeirudo, acabou por aprender a gostar de todas as facetas da ficção especulativa, que hoje se revela o seu género favorito.