A Caça
de Osvaldo Manso
Foi nessa altura que comecei a interessar-me pela caça.
Primeiro, a caça passiva de pôr uma armadilha e esperar. Mais tarde, a caça ativa, improvisada, que consiste na captura da presa que passa. Só depois passei à verdadeira caça: escolher, seguir, estudar, planear, preparar, capturar e, por fim, degustar.
Mas quem pratica desta caça tem de estar preparado. Não para licenças, calendários e burocracias, mas para leis, polícias, investigadores, familiares abelhudos e vizinhos desconfiados.
E assim chego ao momento em que contemplo calmamente o rosto dos dois polícias que, com o meu charme estudado, convidei a entrar. Enquanto perguntam banalidades, vou revendo mentalmente os passos para desossar um corpo adulto. Deixo escapar um sorriso quando recordo o prazer que só as coisas difíceis podem dar.
Disfarçadamente, meto a mão no bolso. Antes de carregar no botão, confirmo se ambos estão mesmo por cima do alçapão.
SOBRE O AUTOR
Osvaldo Manso
Osvaldo Manso nasceu em 1975. Nos últimos anos, tem sentido especial prazer na leitura de contos e em jogar xadrez. Outras paixões, como a música e o cinema, são mais antigas. No terror, as suas principais referências são os filmes de Carpenter, Kubrick e Hitchcock. Na escrita, ainda sente arrepios quando recorda a primeira leitura de Aquele Inverno em Veneza, de Daphne du Maurier. Vive pacatamente, em Lisboa, com a mulher e os dois filhos. Não consta que deambule pelo lado errado da noite, mas quem sabe?







