Sobre este filme

Um conto sobre uma mulher com um talento fora do comum para a escrita. Alice, a nossa musa, sofre com o impulso de escrever, não conseguindo estancar o fluxo verbal que a assola. Ao lado da sua luta contra a doença, surge a conflituosa relação que mantém com o marido. Esta é a premissa d’A Escritora.

Alice é uma mulher animalesca. Instintiva, aguerrida, obsessiva. Vive sob o controle de um marido brando, bem-sucedido, incapaz de se revelar inteira. Por ele, mente. Oculta quem é. Vai dando os passos devidos a uma mulher na sociedade: casar, tomar conta da casa, fazer amor, procriar, ter filhos, tomar conta de todos, esquecer-se de si. Por dentro, é toda resistência. A banalidade e o que é suposto não lhe assentam. Por isso, escreve. A escrita é a sua forma de sobreviver às imposições alheias. Porém, uma doença ensombra o seu destino. O que ela regista terá algum valor para mais alguém, além de a salvar de si mesma? A produção de milhares de linhas com frases tem qualidade? Alice procura as palavras certas para a vida e despreza as metáforas que a adocem.

A luta entre a sua representação, para o marido e para os outros, no quotidiano, face ao que ela sente deveras, deve ser uma constante. As expressões faciais serão várias vezes o oposto das suas ações. Exemplo: poderá estar a realizar uma tarefa com movimentos ponderados, calmos, e a sua expressão denotar ódio, a capacidade de assassinar o marido assim o desejasse. Devemos estar sempre no limbo, entre o acreditar nela, na sua paixão, no seu talento, e duvidar e sentir pena, e pensarmos que não passa de uma mulher louca, cruel para o marido. Contenção vs. explosão. Dócil vs. selvagem. Racional vs. irracional. Uma mulher-disfarce. Entre o que esperam dela e o que é realmente.

O marido parece amá-la, mas como é isso possível quando o seu objetivo maior é obrigá-la a render-se à nulidade? É o seu maior opositor. O que não lhe dá uma oportunidade. O que só vê a doença. Ela vai alternando entre o acatar das suas ordens e a humilhação a que o sujeita. Quem quer o bem de quem? Alguém pensa no outro, nesta relação? Amam-se ou vivem uma relação doentia?

Alice é uma alma livre presa num corpo grávido. Um corpo que pertence a quem dele se alimenta. Haverá, também, neste aspeto, uma relação dúbia dela com a sua barriga. Ora parece amá-la, ora parece querer ver-se livre desse estado.

 

Ficha técnica

Elenco: Catarina Lima, Afonso Pimentel, Áurea Miguel Silva, Dalila Carmo (narração)

Baseado num conto original de Andreia Azevedo Moreira

Produção: Rute Simões

Argumento: Andreia Azevedo Moreira e Hugo Pinto

Diretor de Fotografia: Nuno Assunção

Colorista: Nuno Garcia

Banda Sonora: Gahnah

Montagem: Hugo Pinto

Realização: Hugo Pinto

 

Biografia

Hugo Pinto nasceu no dia 24 de abril de 1975. O seu sonho de vida sempre foi contar histórias através das imagens.

Realizador/editor de imagem desde que nasceu, conta estórias para ser feliz. Realizar tornou-se obrigatório e, lado a lado com o percurso televisivo, prepara mil guiões e infinitos filmes para dar seguimento às suas quatro curtas: TU, Espelho Meu, A Escritora e O Intruso. Quando filma um plano, sente-se completo. O seu plano de vida é filmar muitos…

Em 2022, submete as curtas A Escritora, Espelho Meu e O Intruso à plataforma independente VIDIVERSE, de Alex Proyas (realizador icónico norte-americano de filmes como O Corvo, Dark City, Knowing ou I, Robot).

As curtas são recebidas com entusiasmo e Hugo Pinto é convidado como autor a fazer parte do Universo do realizador. Destaca-se como o único realizador português a ser integrado nesta plataforma norte-americana.

«A Escritora» (2020),

um filme de Hugo Pinto