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de Paula Estêvão

 

A dúvida conduzia-nos a uma ansiedade insuportável. O maestro indicava poucos minutos antes do concerto qual ou quais os músicos que iriam fazer as aberturas.

Desconhecíamos a peça que seria interpretada. Eram-nos dadas algumas para prepararmos, mas não sabíamos ao certo qual iríamos tocar. 

Desde as últimas eleições, há 50 anos, que a situação se tornara desumana para toda a gente. Estávamos isolados e era assim que nos mantinham, supostamente porque o isolamento nos conduzia à excelência. Concentrados no nosso objectivo, superávamo-nos. Não víamos a nossa família durante meses. 

Quem tocava as aberturas desaparecia pouco depois. O pânico era silencioso. Em diversas localizações geográficas, criavam-se campos semelhantes aos criados nos anos 40 do século XX, na Europa Central. Eu pensava nos colegas que desapareciam, e por que lhes chamavam os escolhidos. 

 

*Este texto foi redigido segundo o Acordo Ortográfico de 1945

SOBRE A AUTORA

Paula Estêvão

Economista, contista e novelista. O seu sangue possui emoção, hemoglobina, terror, mar, plasma, saudade, e tantos mais sons e cores… Gosta de escrever, ler e mergulhar no oceano. Em 2022, publicou o seu primeiro conto, integrando uma antologia intitulada Nem Sempre os Pinheiros São Verdes II, da editora Poética Edições.

Transporta dentro de si todas as palavras que ainda não escreveu.

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