A Estada

de Joana Santos

A viagem tinha sido longa e Tom estava impaciente para chegar ao quarto. Não tinha muitos pertences, pois a estada seria curta. Deitou-se e deixou-se adormecer, reconfortado pelo cheiro a lençóis lavados.

Acordou sobressaltado e sem noção das horas. Tinha um sono leve quando ficava em quartos desconhecidos, mas tentou voltar a adormecer, focando-se na luz amarelada que se infiltrava por baixo da porta. Imaginou os desconhecidos que dormiam naquele piso, mas o seu pensamento foi interrompido por sussurros lá fora.

Embora os sussurros caminhassem de um lado para o outro, Tom não conseguia ouvir passos nos mosaicos do corredor. Cedendo à curiosidade, aproximou-se da porta, silenciosamente. Embora as palavras não fossem perceptíveis, tratava-se de uma voz só. Encostou o ouvido ao metal, mas os sussurros pararam, dando lugar a um silêncio desconfortável.

Estava prestes a descolar a orelha da porta quando a sentiu estremecer, sendo empurrado pelo som zangado de alguém a bater nela. Bateram outra vez, mas não havia nenhuma sombra do lado de fora. De olhos arregalados na escuridão, Tom recuou até ficar encostado contra a parede. O som parou.

Concentrou-se na sua respiração, tentando acalmar-se, mas foi interrompido pelo som de uma chave e a maçaneta rodou. A figura que se revelou do outro lado pairava no ar. Tinha vestes longas, sujas, e olhava para o chão, deixando os cabelos negros pendurados à frente do olhos.

O ser aproximou-se lentamente e, sem proferir qualquer palavra, ergueu a cabeça em direção à cara de Tom. Os seus olhos negros e esbugalhados olhavam-no fixamente. Sem que Tom conseguisse reagir, a criatura agarrou-lhe no pescoço e apertou com força. Apertou até que ele respirasse pela última vez. Depois, largou-o no chão e saiu, deixando a porta fechada, tal como a encontrou.

Na manhã seguinte, a porta voltou a abrir-se. Para surpresa do médico e dos guardas que o acompanhavam, o prisioneiro estava morto. Vinham buscá-lo para ser presente a tribunal, no dia do seu julgamento.

 

SOBRE A AUTORA

Joana Santos

Joana Santos nasceu em 1993, em Santarém. Poucos anos depois, leu a coleção Os Meus Monstros e, desde então, sonha ter um grupo de amigos composto por um vampiro, um lobisomem e uma múmia. Passou a adolescência em Milão, onde se tornou especialista em comer massa. É fã de filmes de terror e aventurou-se na escrita do género através do curso Escrever Terror, oferecido pelos pais como prenda de aniversário.