A Mais Bela Flor

de Sandra Amado

 

Jacinto colheu as rosas brancas da estufa e ofereceu-as à filha de Orquídea. Rosa, que fazia catorze anos, agradeceu-lhe com um sorriso, mostrando-lhe os dentes de pérola. Jacinto corou e devolveu-lhe o sorriso, fixando por momentos o rosto de pele delicada, os cabelos louros ondulantes e os olhos de um tom azul-marinho.

Estava nervoso, sentado ao lado de Rosa. Nem mesmo as rosas mais exóticas exalavam o perfume que se desprendia do seu cabelo e da sua pele: um odor de gordura fresca não azeda e um cheirinho de iogurte acabado de fazer. Rosa era uma flor a desabrochar para a adolescência.

Enquanto mãe e filha conversavam, serviu-lhes uma tisana e uns biscoitos de manteiga. A senhora Orquídea, que ocupava quase dois lugares no sofá, pediu-lhe mais chá e mais biscoitos. Jacinto foi até cozinha, ferveu a água e juntou-lhe um ingrediente especial. Pouco tempo depois, Rosa e Orquídea dormiam.

Jacinto observou-as de perto e, com cuidado, amarrou-as e amordaçou-as. A seguir, levou Rosa para a estufa e aparou-a com delicadeza. Arrancou lentamente os belos olhos com uma tesoura de poda, para não os danificar. Esquartejou-lhe os braços com uma pequena enxada. Descolou as unhas dos pés e das mãos com um serrote, separando com paciência a pele das unhas. Colocou-a no colo e enterrou o corpo até se ver a cabeça, deixando de fora os belos cabelos louros. Depois, regou-a com orgulho, a mais bela flor da sua estufa.

SOBRE A AUTORA

Sandra Amado

Sandra Amado nasceu em Lisboa, em 1972, e vive no Luxemburgo desde 2011. Em Portugal, licenciou-se em Sociologia. No Luxemburgo, estudou Gestão, desenvolvendo, ao mesmo tempo, uma paixão pela língua francesa.

As saudades de Portugal e uma nova identidade cultural foram os motores da escrita — mal du pays, como dizem os franceses.

Iniciou-se na escrita criativa em francês, sempre com vontade de ir mais além. Durante o confinamento, apaixonou-se pelos cursos de escrita de terror da Escrever Escrever, integrando, mais tarde, a antologia Sangue Novo, com o conto «A Mais Bela Profissão».

Aprecia o gótico, as emoções, as sensações e a acústica que cria nos seus contos. Acredita que o percurso de uma vida normal, como a sua, poderia dar um conto de terror, e é por isso que acredita nesta escrita.