A Maldição
de Telma Cebola
Começou de mansinho. Um pequeno aperto no coração. Depois, mais forte, o bater descompassado.
Pum-pum,
Pum-pum,
Pum-pum.
Será que vai explodir?
Veio a respiração ofegante e o aperto na traqueia.
Vou sufocar.
Logo depois, veio a visão turva.
Estou a ficar cega?
Vieram as náuseas e as tonturas.
É agora, vou morrer.
Pensava muito na morte ultimamente. Não era que a vida fosse má, mas também não era boa. Quando olhava pela janela, à noite, pensava:
E se me mandasse daqui abaixo? Será que ia doer?
Ou quando passeava junto à praia e passava por um penhasco:
E se eu me atirasse para o mar? Era uma morte tão poética…
Quantas vezes não dei por mim a olhar para frascos de comprimidos.
E se os tomasse todos de uma vez? Não era assim tão mau morrer a dormir…
Tantos «ses» na cabeça e tão pouca vontade de viver no coração.
Pum-pum,
Pum-pum,
Pum-pum.
O coração estava descontrolado. Ia rebentar, de certeza. A respiração acelerava cada vez mais. Sentia a cabeça a rodar. Tudo a ficar preto. O corpo a ceder. Desta vez, ia mesmo morrer. De certeza que ia.
E depois, morri mesmo.
*
Acordei numa cama de hospital. Estava cansada, mas o coração parecia mais calmo, a respiração normalizada. Afinal, não tinha morrido.
Um médico veio ter comigo e explicou-me que eu sofria de ansiedade severa, que tinha tido um ataque de pânico, mas que não ia morrer. «Só» precisava de ir ao psicólogo, tomar medicação, fazer exercícios de respiração. Pensei no que seria uma vida inteira disto. De sentir que ia morrer. De medicação e terapia. E a morte, novamente, já não me parecia tão má assim…
No entanto, tanta coisa me agarrava à vida… E talvez as coisas melhorassem. Ia seguir o tratamento e podia ser que me sentisse melhor. A partir daqui, ia tudo ser melhor.
Prólogo
O demónio Verrine sentia-se aborrecido. Precisava de se entreter. Encontrou então aquela mulher de pensamentos depressivos. Sorriu e apontou o dedo, a maldição estava lançada. Vamos ver por quanto tempo ela se vai aguentar… Vamos ver…
SOBRE A AUTORA
Telma Cebola
Telma Cebola nasceu em Cascais no ano de 1985. O terror esteve sempre presente na sua vida, especialmente na vertente literária (tem toda a coleção Arrepios) e cinematográfica (passou a adolescência a ver filmes de terror de qualidade duvidosa). Escreve para libertar os seus demónios e vê na escrita uma espécie de terapia, em que a mente a obriga a passar para o papel os pensamentos menos sãos que tem. Talvez um dia esses pensamentos se transformem num livro.