Almajona
de Patrícia Lameida
A melhor hora para a colheita era quando o sol tangente fazia brilhar a terra onde as almas estavam presas.
Imensa, a enorme mulher-mãe vagueava pelo campo — e procurava.
Sabia que as almas eram de crianças quando a cintilação que ondulava pela aurora era foliona. Com a mão enorme, tão carregada quanto as almas que puxava pelos pés, a Almajona trazia a criaturita esquecida para os seus braços.
A última que arrancara ao chão era um rapazote. Um espírito pequenino na curta vida e magro pela fome de calor que recebera. Fora enterrado de pescoço partido, com as mãos que nele se marcavam demasiado adultas para a impunidade.
Não era ainda a sua menina, a que aquela mãe-culpa deixara abusar até à morte, a que matara por ausência.
Ofereceu ao pequeno o mimo que pôde. Estreitou os braços eternos em seu redor e prendeu a alminha carente ao lombo. Continuou o seu caminho.
SOBRE A AUTORA
Patrícia Lameida cresceu entre livros, aventuras e novos mundos. Escreveu, desde cedo, poemas e pequenas histórias que esqueceu com o tempo. A vida divergiu do mundo das letras durante a sua formação e entrada no mercado de trabalho. Não tardou a reencontrar esta paixão, mantendo um blogue de crítica literária durante vários anos e escrevendo pequenos textos, alguns dos quais poderão ser encontrados em antologias como o Almanaque do Dr. Thackery T. Lambshead de Doenças Excêntricas e Desacreditadas e Não Vão os Lobos Voltar e em revistas literárias como a Palavrar.







