Aviso
de Liliana Duarte Pereira
Madalena, tinhas aversão pura a mãos envelhecidas, rugas e cabelos brancos. Tapavas o nariz sempre que entravas em casa dos nossos avós, dizias não suportar o cheiro rançoso dos velhos. Tinha dúvidas de que soubesses que também tu estavas a envelhecer.
Seguias rituais cristalizados desde que acordavas até adormeceres. Besuntavas-te com mil cremes, fazias exercício, cumprias as horas de sono e comias bem. Era para ti importante aparentar ter menos 10 anos do que na realidade tinhas.
Dizias-me que nunca serias velha. Desculpa não te ter compreendido. Nunca pensei que, com apenas 31 anos, te estaria a entregar à terra.
*Este texto foi redigido segundo o Acordo Ortográfico de 1945
SOBRE A AUTORA
Liliana Duarte Pereira
Liliana Duarte Pereira, nascida a 30 de junho de 1986, é licenciada em Política Social através do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas. Sempre quis preparar os mortos para os seus funerais, mas não vingou. Tem fobia a pessoas falecidas e a portas entreabertas. Gosta de animais, de fazer doces, de rir de coisas mórbidas e de escrever.
Integrou as antologias Sangue Novo (2021), Rua Bruxedo (2022) e Sangue (2022).
Venceu o Prémio Adamastor de Ficção Fantástica em Conto (2022) com «O Manicómio das Mães», da antologia Sangue Novo.