Casa Assombrada
de Álvaro Oliveira
A velha casa no quarteirão abandonado parecia um bom local para começar.
Como qualquer repórter sabe, no início de carreira, devemos começar por histórias mais pequenas. Eventos culturais, acidentes, o desfile de Natal das crianças da escola. Nunca se começa por histórias de fantasmas, espíritos ou sobrenaturalidades associadas.
Um jornalista novato, no entanto, deixou a ambição guiá-lo até à casa decrépita no n.º 27, na rua recorrentemente frequentada pelos mais jovens da pequena vila. Coincidentemente, era a partir deles que circulavam os rumores de assombrações na dita habitação — relatos de vozes, passos e aparições sem origem racional, sem esquecer os boatos sobre desaparecimentos misteriosos, tendo como último paradeiro o estranho local.
Algumas histórias incluíam suicídios, abertura de portais para o Inferno, toda uma gama de efabulação humana. Contudo, nada disso importava para o repórter.
Se tudo for real, vou ter o furo do século. Se não for, tenho um agradável passeio noturno.
Foi com estes pensamentos que se aproximou da casa. Estava escuro, como seria de esperar àquela hora, e a casa não contrariava a escuridão.
As portas e janelas estavam bastante enferrujadas, envelhecidas. Nada se ouvia do outro lado. Tentou abrir várias janelas sem sucesso.
Determinado, deu a volta ao edifício, finalmente encontrando uma janela que abriu com espaço suficiente para entrar. À frente, erguia uma câmara portátil, filmando o espaço que percorria.
Nada de estranho se passou, ao princípio. As paredes de madeira continuavam decrépitas, o chão continuava a ranger, o aparelho continuava a filmar uma velha casa, aparentemente abandonada.
Pelo canto do olho, então, pareceu-lhe ver uma sombra a mover-se. Ao virar-se, no entanto, não viu nada de anormal.
Continuou em frente. Pareceu-lhe ouvir o som de passos a ecoar, não muito longe de onde se encontrava.
— Está aí alguém?
Os passos continuaram, imperturbáveis. A eles, juntou-se um estranho som agudo, como qualquer coisa que se arrastava pelo chão.
O intruso deu um passo atrás. Apesar da sua resolução inicial, não tinha considerado quão assustador era estar sozinho numa casa possivelmente assombrada. O «possivelmente» era o bastante para o fazer pensar na decisão que tomara.
Os passos continuavam. O som agudo intensificou-se. Fazia lembrar o som de correntes a rasparem no soalho. Guardou a câmara e deu outro passo atrás, parando ao ter um vislumbre de algo branco na escuridão.
A imagem foi o limite. Desatou a correr, em altos berros, tentando encontrar a saída, até que uma voz sobressaiu entre a gritaria:
— Para de gritar, rapaz, que ainda acordas os vizinhos todos!
Ele estacou, tentando observar a interlocutora. Uma senhora já idosa, de cabelo branco, esforçava-se para o alcançar, movimentando-se lentamente com a ajuda de um andarilho, as suas rodas produzindo o som metálico que ouvira antes.
— Quem é a senhora? — perguntou ele, confuso, mas aliviado por não se tratar de um espírito.
— Sou a proprietária, ora essa! O que é que lhe deu a si para entrar em propriedade privada?
— Bem… — começou ele, envergonhado. — Corre o rumor de que esta casa está assombrada, por isso, vim investigar. Nunca se viu ninguém sair, nem luzes nem…
— É difícil sair muito, com as minhas artroses. E acha que me posso dar ao luxo de gastar luz, ao preço que ela está?
Apercebendo-se do erro, o repórter pediu imensa desculpa pela intrusão, retirando-se de novo para a noite, embaraçado, de volta a casa.
A senhora idosa ainda esperou para garantir que o repórter se tinha ido embora, espreitando para a rua até obter confirmação. Suspirou, agarrando-se ao andarilho já gasto, e proferiu audivelmente:
— Este não era jovem o suficiente, pois não, Meu Senhor?
Toda a casa estremeceu, uma brisa fria deslizou pelos velhos corredores, e um lamento grave, quase humano, reverberou pela madeira gasta.
— Eu sei, eu sei — repeliu a idosa, caminhando de volta para a obscuridade. – Mas devia deixar de ser picuinhas.