Coexistência

de José Maria Covas

O Dr. Atanásio estava branco. A cara tinha-se convertido num mar de suor que pingava. Os olhos pediam permissão ao cérebro para fugir das órbitas. Tudo por causa do porco. O porco que Mariana, a mulher do Sr. Carlos, lhe tinha pedido para examinar. Devia estar bem de saúde para a venda, mas, segundo ela, o porco de 390 kg ofegava e guinchava de dores.

Mariana, ao mesmo tempo, tinha outra preocupação. O marido não estava ali. Procurara-o por todo o lado, sabendo que ele sempre gostara de estar presente nas consultas dos seus animais. Não teve êxito.

A avaliação deu-se sem mais demoras. Ao tocar na barriga, o Dr. Atanásio apercebeu-se de que havia uma protuberância. Preocupado, pois poderia ser a causa de uma falta de espaço que levasse o porco a não poder comer ou respirar, decidiu abrir o animal.

O que ele foi fazer.

Tanto o Dr. Atanásio como Mariana gritaram. Dentro do porco, encontrava-se o Sr. Carlos, nu. E pior! Estava vivo! Embora nem o doutor soubesse como. Cientificamente, não era possível a sua sobrevivência no estado em que estava. O corpo apodrecido de Carlos estava a ser digerido, mas ao mesmo tempo regenerava, da cabeça para baixo. Era impossível de explicar este estranho fenómeno, assim como não se explicava o facto de o Sr. Carlos, trinca a trinca, estar a devorar o animal por dentro.

 

SOBRE O AUTOR

José Maria Covas

José Maria Covas, desde que nasceu a 26 de setembro de 1998, sempre tentou compreender a realidade em seu redor e contribuir para a sua evolução. Licenciou-se em Ciências Biomédicas na Universidade de Coventry e fez o mestrado de investigação em Medicina Regenerativa na Faculdade de Medicina e Veterinária da Universidade de Edimburgo. Os seus poemas, contos e guiões conjugam o mistério e o estranho da literatura e cinema com o ocultismo e surrealismo das suas viagens, criando, no processo, o seu próprio universo artístico, que eternamente explora a condição humana.