Diários de Guerra

De Emanuel R. Marques

 

 

Não sabíamos quantos inimigos estariam escondidos na velha capela, mas, pelo tenebroso silêncio, já nos aguardavam. Fiz sinal a seis dos meus soldados, para me acompanharem na missão de abrir caminho aos restantes. Todos os cuidados eram poucos. Estávamos próximos, invisíveis, prestes a semear detonações.

Subitamente, o Pascal começou com espasmos, convulsões, a gritar frases guturais enquanto se arrastava em agonia. Iniciou-se o caos, trocas de tiros, tínhamos perdido a vantagem. O Pascal, no seu bizarro monólogo, acompanhado por movimentos erráticos, era atingido, ignorando os desígnios das balas.

Sem aviso, saltou contra uma janela e entrou no espaço inimigo. Tiros e gritos multiplicaram-se no interior. Após cinco minutos, porém, marcados pela queda da cruz no alto da torre sineira, a robusta porta abriu-se e surgiu o Pascal, banhado em sangue, vivo e a acenar.

Ninguém escapou à sede do Pascal, naquela noite. Inimigos e amigos…

Ainda tenho sede.

 

*Este texto foi redigido segundo o Acordo Ortográfico de 1945

 

SOBRE O AUTOR

Emanuel R. Marques

Formado em Comunicação Audiovisual.

Prosa, poesia, artes visuais, cartoons, música e outras inquietações.