Loja de Adereços
de Diana Zimbron
Limitei-me a olhar pela porta de uma loja de adereços. Pelo menos, era o que dizia o letreiro na montra: «adereços para o Halloween».
O ambiente podia até parecer festivo, aos olhos de alguém que goste de expositores cheios de bonecos, máscaras, perucas, bicharocos asquerosos, marionetas, uma bola de cristal e alguns colares, de fio simples, com pendentes em pedra lapidada. A mim, dava vontade de fugir como uma galinha espavorida. Provavelmente, pela quantidade de olhos que me vigiavam das prateleiras.
Algo profundamente perturbador naquele cenário me punha a imaginar o que se passaria ao fundo da loja, por entre a penumbra e o bafio, onde quase podia jurar que uma vidente ainda dava consultas.
Era perfeita! Sacudi a mão do agente imobiliário, passando-lhe o valor da primeira renda.
Próximo passo: substituir todos aqueles olhinhos de plástico pelos que passei os últimos 7 anos a colecionar.
SOBRE O AUTOR
Diana Zimbron
Nascida em 1984 na ilha Terceira, publicou Temporário, Permanente, A Menina Que se Picou num Cato, crónicas e poemas em jornais locais e coletâneas. Também criou e apresentou um programa semanal de rádio sobre literatura predominantemente açoriana, chamado Dá-lhe Corda. Entre os seus melhores feitos, está «Ser da Montanha», um conto de sensibilização ambiental, vencedor do prémio de escrita Miratecarts em 2020. É ainda educadora de infância, entre muitas outras coisas.