Matinal

de Diana Zimbron

 

As cores são mais vibrantes a esta hora. Paisagens tocadas pelos primeiros raios de sol. Tudo parece rosado e feliz.

Deixo sempre os meus rafeiros tratados e mimados, seja a que horas for. Tenho duas dezenas de animais a meu cargo. Sempre gostei de gatos e cães. Certamente mais do que de pessoas.

Conduzo, por entre bandos de melros-pretos que se alimentam no alcatrão húmido. Além deles, só uma ou outra criança, pelas ruas, em direção à paragem do autocarro.

A certa altura, verifico todos os ângulos, passo por uma zona sem casas e não há ninguém à vista. Carrego, com mais força, no acelerador.

O «ploc» contra a grelha traz-me uma satisfação… sádica, reconheço. Guino, para evitar sujar o carro e deixar marcas. Olho pelo retrovisor, com a certeza de agora ser capaz de aguentar o resto do dia.

— Odeio gente.

 

SOBRE O AUTOR

Diana Zimbron

Nascida em 1984 na ilha Terceira, publicou Temporário, Permanente, A Menina Que se Picou num Cato, crónicas e poemas em jornais locais e coletâneas. Também criou e apresentou um programa semanal de rádio sobre literatura predominantemente açoriana, chamado Dá-lhe Corda. Entre os seus melhores feitos, está «Ser da Montanha», um conto de sensibilização ambiental, vencedor do prémio de escrita Miratecarts em 2020. É ainda educadora de infância, entre muitas outras coisas.