Morte à Morte
de Analita Santos
Eva despertou imóvel e silenciosa na mesa mortuária. A médica-legista e o seu assistente conversavam.
— Este é o caso mais recente.
Eva tentou gritar, mas a garganta rasgada não emitia qualquer som. Os olhos baços assistiam horrorizados enquanto a médica cortava a epiderme com a mão suave, como se não desejasse magoá-la ainda mais. Eva tinha o corpo repleto de marcas de mordidas — nos seios, nos braços, no interior das coxas. As dentadas profundas nos pulsos pareciam pulseiras tatuadas. Embaraçado, o cabelo ruivo tresandava a sexo.
— Que desperdício. Tão bonita…
Um arrepio percorreu-lhe o corpo. Tentou mexer-se, mas era incapaz. Enquanto a médica-legista se afastava, Eva sentiu a pele a eriçar e um sabor metálico na boca. O renascer estaria para breve.
Tranquilizou-se, então. Tentou controlar-se. Até ouvir de novo a voz da médica:
— Já é quase dia. Leva-a lá para fora. Não queremos mais vampiras.
SOBRE A AUTORA
Analita Santos nasceu nos anos 70. Escreve por paixão e com paixão. É autora, formadora, ativista literária, curadora de um clube de leitura e diretora de uma revista literária. Já participou em várias coletâneas e escreve para diversas publicações. No género do terror, explora o inusitado e o inesperado. As suas histórias misturam provocação, desassossego, erotismo e inquietação.