No Mar de Salomão

de Helena Menezes

 

«A luta contra o mal, nosso eterno dever.» Assim começava a carta ao padre Josefo, intimando-o a partir para mais uma terra desconhecida. 

A ilha Tohatoha, no Mar de Salomão, era povoada por hereges canibais de crenças animistas. Veneravam os mortos e encarnavam os espíritos malignos, como forma de os afugentar. O padre era um dos etnólogos evangelizadores mais experientes e triunfaria onde outros tinham falhado. 

Integrou-se sem pudor. Comeu carne dos seus irmãos, copulou com as filhas de Deus, deixou-se penetrar pelos aspirantes a discípulos. Sacrificou o corpo pela palavra do Senhor e pela vaidade de conseguir o inatingível, ao mesmo tempo que se regozijava secretamente. E conseguiu. Elevado a divindade suprema, já menos branco e imaculado, foi centro das festividades daquela tribo que o abraçou. No avançar da noite, ofereceram o intruso, o demónio encarnado, deleitando-se com as suas partes, comendo-o uma última vez. 

SOBRE A AUTORA

Helena Menezes

Nasceu em Lisboa em 1981. Licenciou-se, tirou mestrado e trabalhou como bolseira de investigação, na área das Ciências da Paisagem, entre 2007 e 2013, na Universidade de Évora. Paralelamente à escrita científica, foi fazendo incursões na escrita criativa. Arjuna e o Espírito do Tigre (conto infantojuvenil, Ed. Primeiro Capítulo) foi o primeiro livro, publicado no final de 2022. Participou na coletânea 13 Autoras em Vénus (poesia erótica, Ed. Vieira da Silva) lançada em abril de 2023. Iniciou-se na escrita do terror, algo despoletado pela masterclass do Pedro Lucas Martins, visualizada recentemente na formação «Livro em Ação».

 

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