O Documentário

de Cristóvão Correia

 

— Foi o maldito documentário! — disse Jorge, em lágrimas.

Era um simples taxista, com trinta anos de profissão, barrigudo e sorridente. Nos tempos livres, tomava conta dos netos e levava-os ao parque infantil.

O certo é que num ano tinham desaparecido catorze pessoas na cidade. Uma idosa, mestre das rendas e dos bordados; um cientista de renome; um prodígio do xadrez de oito anos. Entre outros.

O elemento de ligação entre todos era terem viajado no táxi de Jorge.

Quando os inspectores lhe revistaram a casa, encontraram uma arca frigorífica cheia de cabeças, cuidadosamente guardadas em sacos de plástico.

— Eu só queria que os conhecimentos deles não se perdessem — explicou Jorge, desolado.

O documentário era sobre criogenia.

 

*Este texto foi redigido segundo o Acordo Ortográfico de 1945

SOBRE O AUTOR

Cristóvão Correia

Cristóvão Correia (Santarém, 1982) é, desde sempre, um apaixonado por histórias, reais ou inventadas. Gosta especialmente de literatura, cinema e séries de televisão. O seu género preferido é o fantástico.

Escreve desde os doze anos e decidiu que estava na hora de partilhar as suas obras com um público mais vasto.

Não sabe de onde lhe vem o fascínio pelo terror. Talvez dos contos tradicionais que a avó lhe contava, em criança, ou de ver os Ficheiros Secretos, na adolescência.