O Festim de Kelb’lhoac

de Alcides Cunha

 

Kelb’lhoac, ou, como os humanos lhe chamaram, Sagitário A*, levantou a cabeça e esticou a sua forma. Milhares de anos tinha ele descansado, encolhido no centro daquela galáxia. Uma curta sesta para um ser como ele. 

Deslocou-se, cruzando as estrelas na direção do Esporão de Oríon, recordando o banquete que naquele sistema solar tinha tido e como o ensino de tecnologia e ciência fizera o seu alimento crescer. Esperava que, 14 biliões de anos depois, tivesse de novo funcionado. 

Ao chegar ao planeta, abriu a boca, envolveu-o e cuspiu-o, sem vida. O seu palato inundou-se com as consciências dos que tinham visto surgir no céu uma sombra a tapar o Sol, ou as estrelas a apagarem-se uma a uma. 

Em apenas alguns milhões de anos, voltaria ali, com os químicos certos, para plantar as sementes de uma próxima refeição. E, dessa vez, deixaria a racionalidade amadurecer por mais um tempo.


SOBRE O AUTOR

Alcides Cunha