O Lago

de Joana Santos

Que sensação estranha, olhar para o lago que a matou. Há dez anos, Sam foi encontrada pálida e sem respirar naquela mesma margem. Os avós disseram-lhe que esteve morta uns minutos. Recorda-se de uma mão a puxar o seu pequeno pulso para fora da água, mas ninguém viu quem foi. Evitou o lago desde então e sabia que não devia aproximar-se. No entanto, teve uma vontade inexplicável de voltar.

Amarrou Cacau, o seu labrador castanho, a uma das árvores na margem. Caminhou para o lago, observando a terra molhada a envolver os seus pés. Parou quando a água chegou à cintura, estava mais quente do que esperava.

Foi então que sentiu o chão a desabar. A água, agora fria, chegava ao pescoço e pressionava-lhe o peito. Ouvia o ladrar do Cacau cada vez mais longe e abafado. Estava completamente submersa quando percebeu que alguém lhe agarrava o tornozelo. Seria possível que fosse a mesma mão que a salvou quando era criança? Esta, porém, puxava-a para o fundo, para longe da superfície.

Confusa, ouvia a sua respiração abrandar enquanto a luz do Sol desaparecia na água turva. Pensou no quão curioso era — que o lago que lhe dera a vida voltava agora para a reclamar.

 

SOBRE A AUTORA

Joana Santos

Joana Santos nasceu em 1993, em Santarém. Poucos anos depois, leu a coleção Os Meus Monstros e, desde então, sonha ter um grupo de amigos composto por um vampiro, um lobisomem e uma múmia. Passou a adolescência em Milão, onde se tornou especialista em comer massa. É fã de filmes de terror e aventurou-se na escrita do género através do curso Escrever Terror, oferecido pelos pais como prenda de aniversário.