O Mestre do Disfarce

De Nuno Amaral Jorge

 

Eduardo Gegin estava zangado. E tinha razão para tal. Só faltava uma semana para a véspera do Dia de Finados.

Desde que descobrira o que era a noite das bruxas, não falhara um desfile. E fazia sempre sucesso. Algumas pessoas tinham até dificuldade em olhar para ele, mas admiravam sempre as suas máscaras.

Pela sala, ouviam-se os ruídos provocados por movimentos rápidos e estertorosos. Eduardo ignorava-os.

Não tinha problemas em encaixar os narizes. Eram as orelhas que nunca assentavam. Irritado, olhou para o homem nu e amarrado na marquesa metálica, que tentava desesperadamente libertar-se.

Vou ter de cortar mais junto à linha do cabelo, pensou, de forma quase consoladora, enquanto pegava no bisturi. Se calhar, é mais fácil se passar a anestesiar. Agora, não tenho tempo. Mas da próxima não passa.

 

*Este texto foi redigido segundo o Acordo Ortográfico de 1945

 

SOBRE O AUTOR

Nuno Amaral Jorge

Nuno Amaral Jorge nasceu em 1974. É jurista, fotógrafo amador e escritor freelance, além de bibliófilo. É guionista no projeto de banda desenhada portuguesa Apocryphus, desde a sua primeira edição, em 2016. Em 2018, publicou um livro de contos infantojuvenis chamado A Joaninha ao Contrário e Outras Histórias, e em breve será publicado um segundo volume de contos, ambos pela editora Ideias com História. Em 2019, publicou um romance chamado As Três Mortes de um Homem Banal,  pela Editora Planeta e, em 2020, participou na antologia de contos na edição comemorativa dos 30 anos da APAV, À Roda de uma Vontade. Em 2022, publicou um conto na antologia Os Medos da Cidade, da Editorial Divergência e pretende acabar um romance que se encontra «a meio», bem como um conjunto de contos de terror e fantástico. Stephen King é a sua referência.