Remédio Verde

de Sandra Martins

 

Como eram silenciosas. Fragéis. Inocentes e discretas. Perfumando o ar da manhã. Em varandas ou em vasos nas janelas. Nas rua ou nos campos. Em descampados ou em jardins.

Verdes, de todos os tons, de todos os tamanhos, embelezando com ou sem flores, com ou sem bagas baloiçando nos seu ramos.

Agora que a temperatura do planeta aumenta e a luz solar é mais intensa. Agora que há acordos mundiais para tornar todos os pontos do planeta mais verdejantes, para sermos salvos da poluição, das ondas de calor e dos gases do efeito estufa. Agora que é promovida a implantação da declaração sobre as florestas.

É agora a oportunidade que elas tanto esperavam. Para preencherem monte e vales, cidades e aldeias. Vejam-nas a revelarem-se!

Ei-las agora, luxuriantes e estranhas, rasteiras ou altas, mais ou menos pegajosas. Ei-las de ramos abertos, com folhagem espessa e cerrada. Ei-las, dominadoras, avançando e marchando em florestas compactas, derrubando tudo à sua frente como uma onda verde até ao céu.

Eis o momento em que elas se aproximam, empurrando, trepando, ocupando, largando seiva e sementes, prontas para nos sufocar.

 

SOBRE A AUTORA

Sandra Martins

Sandra Martins nasceu e vive em Lisboa. Estudou Gestão e Estatística. Escrevia ocasionalmente com o objetivo de informar.

A pandemia e o confinamento tornaram a ocasião cada vez mais frequente e, depois de alguns cursos na Escrever Escrever, começou a fase de exploração, para criar algo mais interessante.
O desconforto e as incertezas que marcaram os últimos anos trouxeram a público algumas experiências pouco racionalizadas e potencializaram a escrita de terror.