Ritual
de Diana Zimbron
O balde de zinco, na minha frente, transpira e goteja à medida que o ar aquece.
Estou sentada sobre os meus próprios pés e aguardo. Sabem como se aguarda o efeito do vapor nas vias respiratórias congestionadas por uma gripe? Assim estou eu. Só que, dentro do balde, estão pequenos cubos de gelo, em vez de água quente e folhas de eucalipto.
O sol doira o pátio da escola, refletindo-se nas inúmeras janelas. A temperatura sobe. E eu, no relvado, aguardo.
Inspiro profundamente, com as pernas a começar a doer e as mãos trémulas sobre os jeans gastos.
Observo aquele gelo — prisão ou mensageiro. Quando derreter, libertará os espíritos de guerreiros antes de mim. Beberei o suor desses assassinos de outrora e serei, por fim, digna de empunhar a lâmina afiada que descansa ao meu lado.
Se calculei bem, o processo estará completo ao primeiro toque da campainha.
SOBRE O AUTOR
Diana Zimbron
Nascida em 1984 na ilha Terceira, publicou Temporário, Permanente, A Menina Que se Picou num Cato, crónicas e poemas em jornais locais e coletâneas. Também criou e apresentou um programa semanal de rádio sobre literatura predominantemente açoriana, chamado Dá-lhe Corda. Entre os seus melhores feitos, está «Ser da Montanha», um conto de sensibilização ambiental, vencedor do prémio de escrita Miratecarts em 2020. É ainda educadora de infância, entre muitas outras coisas.