Silêncio
De JP Félix da Costa
Silêncio… Como eu gosto do silêncio… Foi essa procura que me trouxe da metrópole, com as suas constantes idas e vindas de viaturas, buzinas, sirenes, vizinhos… tudo ruído, tortura para a minha mente amante do sossego, dos sons da natureza, que tenho agora no campo. O chilrear dos pássaros, o correr das águas, o restolhar das folhas ao vento… sons de beleza, de harmonia.
Comigo, no entanto, veio a família, as crianças. A alegria delas é a alegria da vida, dizem, mas essa alegria traz ruído…
E com as crianças vêm mais crianças, e com essas crianças vêm os pais dessas crianças. As festas, os aniversários. Ai!, os aniversários… Tanto correr, tanto gritar, tanto ruído.
Termina, eu sei. O silêncio acaba por regressar. Mas a oferta de ruído está lá… sempre presente, sempre iminente.
Deixem-me sossegado, não peço mais nada, levem o barulho para outras paragens. Há mais casas dessas outras crianças, façam lá as festas e aniversários… Eu sei que são nossas as festas, mas o ruído… Aquele ruído… Só me apetece fugir como fugi da cidade! Mas para onde?
Já fugi para onde não tenho estradas nem vizinhos e, mesmo assim, o ruído encontrou-me. Fujo, mas ele procura-me, atormenta-me, sádico e irredutível.
Não fujo mais. Hoje, aprecio o silêncio por completo, sem receios, sem tormento. Ouço-o no sofá da sala, na luz da noite que entra pelas janelas abertas. Apenas eu, o lusco-fusco, os sons da natureza, o silêncio… E este sangue peganhento por todo o lado.
SOBRE O AUTOR
JP Félix da Costa
Apaixonado por livros desde o primeiro dia em que um lhe caiu nas mãos, JP (João Pedro) Félix da Costa tem nutrido o gosto pela escrita. Pelas circunstâncias da vida, esse caminho foi ficando perdido em fragmentos de textos e histórias que guarda para mais tarde terminar. Mais de quinze anos volvidos sobre a publicação de um livro juvenil, procura agora recuperar o tempo perdido e entregar-se às Letras para fazer o que mais gosta, dar vida aos mundos e histórias que lhe fervilham na imaginação, desde histórias para crianças a histórias do mais profundo horror.