Superstição

de Raquel M. Lopes

 

A viagem é interrompida com o bater nervoso do copo no balcão velho. 

Bebo a água sob o olhar impaciente do moço. Fito um dos vários relógios que decoram as paredes mortas. Passam treze minutos da hora. 

Peço um maço de tabaco. Saio e sigo rua abaixo, de calcanhares no rabo.

Recordar o número revolve-me as entranhas. Parece parido a cada esquina. Acelero o passo, como que perseguido por ele com uma foice em riste, e acabo atropelado nos próprios pés. Esbardalho-me ao comprido, mas a vergonha não me deixa sentir dor. Num salto, mesmo a mancar, avanço. 

Finalmente, avisto a minha porta: imponente, um portal para a salvação. Imagino-me refastelado na poltrona, a aguardar que o raio da sexta-feira 13 dê lugar ao dia seguinte. 


SOBRE O AUTOR

Raquel M. Lopes

Raquel é uma apaixonada pela escrita e leitura desde pequena. Embora seja licenciada em medicina dentária, nunca deixou de escrever. Adora desafiar-se nas palavras. Casada e mãe de três meninas, conta-lhes histórias que ela mesma inventa.