Talvez a Psiquiatra Tenha Razão

de Cláudia Passarinho

 

A psiquiatra disse-me que a escrita é terapêutica. Valerá a pena? Sinto-me ridículo. Pareço tão bem-comportado quanto uma lagarta enclausurada no casulo à espera da transformação… O que é que tenho a perder? O silêncio continua. A esta hora, acredito que só baratas andem nas ruas. Por mim, não existiam. São pequenas, asquerosas, de um castanho medonho. Era melhor despir a camisa, amarrota-se muito. Eu devia usar t-shirts; vou começar a usar t-shirts. Eh, barriga, tanta roncadura. Ainda tenho um resto no frigorífico — continua a ser estranho darmos à fome tamanho poder. A mioleira com os ovos estava divinal, e a psiquiatra enganou-se. Afinal, sou bom em alguma coisa. Ainda estarão bons? Foram dois dias de frigorífico e usei manteiga. Da próxima vez, uso azeite; li que o azeite ajuda a preservar os nutrientes. Se fosse uma barata, nem lhe tinha tocado, mas ela era tão bonita. 


SOBRE A AUTORA

Cláudia Passarinho

Cláudia Passarinho nasce no ano de 1980, em Lisboa. É a quarta geração a residir numa vila lisboeta por onde tantos escritores já passaram. Licenciou-se em Desenvolvimento Comunitário e Saúde Mental pelo Instituto Superior de Psicologia Aplicada em 2004, tendo posteriormente completado uma pós-graduação em Gestão de Recursos Humanos. É casada e mãe de dois filhos. Da sua família, sacia o amor, a união e a força para os seus projetos.

É nas páginas dos livros que encontra refúgio e será através das suas palavras que procurará deixar um legado. Conta com a participação em várias coletâneas e revistas digitais, enquanto contista. É cofundadora do podcast «Livros a três» e desenvolve um papel ativo em projetos de formação de Escrita Criativa e na divulgação da importância da leitura.