Recomendações de livros para ler em novembro

As casas podem dizer muito sobre quem lá vive (ou viveu).

Dois livros de autoras e estilos diferentes que têm mais em comum do que aparentam.

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Madalena Feliciano Santos

Para o mês de novembro, trago dois livros sobre casas que estão, de certa forma, assombradas. Mas não no sentido que possam achar.

A minha primeira recomendação é o Caruncho, de Layla Martínez, traduzido por Guilherme Pires. A história é contada através de duas perspetivas, a de uma avó e a da sua neta, através das quais vamos descobrindo muito sobre o passado e o presente da família e, principalmente, sobre o que é viver naquela casa, numa terra pequena. Diria que a casa é um dos elementos principais da história e que, apesar de ser um dos pontos de união das personagens, é também a manifestação de um ódio e rancor que foi passado de geração em geração de mulheres. Acaba por ser um lugar onde elas se sentem encurraladas, um sítio assombrado no qual existem armadilhas, seres malévolos dentro de tachos, móveis que guardam segredos de um passado (que, apesar de serem desvendados ao longo da narrativa, deixam sempre com a sensação de que não sabemos tudo) e paredes que escondem esqueletos daquilo que não querem enfrentar. É um livro pequeno com uma mistura de terror com bases que vêm dos clássicos das casas assombradas, do sobrenatural e, acima de tudo, de um terror mais próximo que envolve trauma geracional, tudo isto tratado de uma forma única.

O segundo livro que venho recomendar apresenta uma casa assombrada de uma perspetiva mais próxima do gótico: Rebecca, de Daphne du Maurier, com tradução de Lucinda Santos Silva. A narrativa é contada na primeira pessoa por uma narradora incógnita. Apesar de nos contar uma história que supostamente é a sua, acabamos por nos aperceber de que ela nem é a personagem principal da sua própria vida, vivendo numa mansão assombrada pelo passado, na sombra da ex-mulher do marido, Rebecca. Somos colocados na cabeça da narradora e sentimos aquilo por que ela passa e o medo e o desespero de ali estar, muito longe do que achava que seria o seu casamento. Há mistérios por desvendar e segredos guardados nas paredes da casa, tudo isto envolvido num ambiente tipicamente gótico, onde a nossa protagonista se sente encurralada e manipulada por alguém que não está sequer presente.

Já leram algum destes livros?


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Madalena Feliciano Santos

Madalena Feliciano Santos nasceu em 2001, em Lisboa. A partir do momento em que leu The Shining, nunca mais largou o terror, estreando-se como autora na antologia Sangue Novo, em 2021, com o conto «Sonhei com uma Linha Vermelha». Frequenta o Mestrado em Tradução da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, a trabalhar, sobretudo, sobre a tradução de literatura de terror.

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