A Erva Vermelha

de Nuno Amaral Jorge

 

A erva vermelha crescia de forma lenta, mas nunca morria. Quando o sol a iluminava, e o vento a fazia dançar, os montes pareciam pintados com sangue escorrente, como se a rocha se tivesse cortado.

Em certas noites do ano, quando a Lua se tingia (também ela) de vermelho, os sons eram audíveis. Sons de coisas húmidas e orgânicas a despedaçar-se, junto a um outro que mais parecia o rugido de uma nuvem negra.

Os dentes das falhas na rocha, afiados, que tudo esfacelavam, soltavam o cheiro de todas as coisas internas à pele. E depois o silêncio.

Nos dias seguintes, a erva vermelha tinha-se sempre multiplicado. A terra, saciada, não a deixava morrer, ou perder o seu vestido de sangue.

Ninguém voltava a ver a erva vermelha de perto.

Nunca.

 

*Este texto foi redigido segundo o Acordo Ortográfico de 1945

 

SOBRE O AUTOR

Nuno Amaral Jorge

Nuno Amaral Jorge nasceu em Lisboa, no ano de 1974. É jurista, fotógrafo amador e escritor freelance. É guionista de BD, publicou contos em várias antologias, dois romances e dois livros infantojuvenis. Destaca títulos como os romances As Três Mortes de Um Homem Banal e A Passagem, bem como o conto «Coelho Branco», publicado na antologia IN/SANIDADE, e com o qual ganhou Grande Prémio Adamastor de Ficção Fantástica em Conto – 2024.
Stephen King, Julian Barnes, Rosa Montero, Neil Gaiman e Alan Moore são algumas das suas referências.
Vive em Carnaxide com a sua companheira, os seus três gatos, e é um feroz defensor do maximalismo da liberdade de expressão, artística ou de qualquer outra tipologia.

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