Amor de Perdição

De Carlos Filipe Matos

 

Eles suavam.

Ela gemia entre baforadas de ar.

Ele tentava não gemer. Queria ouvi-la. Observar-lhe o corpo.

Dobrados e ajoelhados sobre o plástico do chão, ele movia-se de trás para a frente, ela aguentava a movimentação pressionando para baixo.

Ela ajeitou o sutiã.

Ele admirava.

— Concentra-te… — contestou ela ofegante. — Não pares.

Ele olhava-a de esguelha. Mesmo com um ano de namoro, ainda não se habituara àquela sensualidade. Diagnosticado com transtorno de personalidade anti-social, encontrar namorada era impossível. Antes de desistir, porém, tentara na darkweb.

— Tava difícil. — Ela endireitou-se.

— Sim… — respondeu ele, removendo pedacinhos de pele e carne agarrados à serra. — Passa-me a faca, eu corto as mamas.

— Quê…? Queres troféus? — Ela gatinhou até à cabeça, removendo a faca espetada no olho.

— Não… Era só…

Ela aproximou-se e beijou-o carinhosamente.

— Torsos femininos são meus, sim?

OK… — Ele levantou as mãos, rendido.

— Para troféus… tens estas. — Ela pousou a faca e levantou a t-shirt. — Quentes e boas.

 

*Este texto foi redigido segundo o Acordo Ortográfico de 1945

SOBRE O AUTOR

Carlos Filipe Matos

Carlos Filipe Rilhó de Sousa Matos nasceu em Faro a 21 de julho de 1981. Depois de Ficheiros Secretos, Twin Peaks, Twilight Zone, Riget e outros, veio o interesse por literatura de terror, com um interesse pouco saudável nos cenários macabros de Clive Barker, Lovecraft, H.R. Giger, Junji Ito e amigos. A forte ligação ao terror literário e cinematográfico do rock e metal juntam os hobbies de escrita, bateria e jogos de computador, claro.