Canal Morto
De Carlos Filipe Matos
Ela desperta com o som da televisão sintonizada num canal morto.
TTTTTSSSSSSSSSSSHHHHHHHHHHH.
Sentada no sofá, Cristina vê algo brilhar mesmo à sua esquerda. À frente, a televisão cala-se, e a luz acinzentada paralisa a sala numa tranquilidade sombria. De súbito, uma mão aperta-lhe os cabelos pela nuca, e a cabeça é puxada para trás
— Caladinha.
O punho nos cabelos molda-se a uma carícia que lhe estremece o corpo petrificado.
Sente dedos pressionarem-lhe a garganta, sem dor.
Um sussurro ao ouvido, quebrando novamente o silêncio, faz explodir-lhe o ritmo cardíaco.
— Sei que és fã do meu trabalho. Como temos o mesmo nome, deixo-te um presente.
TTTTTSSSSSSSSSSSHHHHHHHHHHH.
Cristina aguarda até olhar cautelosamente para a direita. A porta da rua está semiaberta. Limpando as lágrimas, olha para a esquerda e sorri. Pousado no sofá, a reflectir o brilho da televisão, está um bisturi cheio de sangue.
*Este texto foi redigido segundo o Acordo Ortográfico de 1945
SOBRE O AUTOR
Carlos Filipe Matos
Carlos Filipe Rilhó de Sousa Matos nasceu em Faro a 21 de julho de 1981. Depois de Ficheiros Secretos, Twin Peaks, Twilight Zone, Riget e outros, veio o interesse por literatura de terror, com um interesse pouco saudável nos cenários macabros de Clive Barker, Lovecraft, H.R. Giger, Junji Ito e amigos. A forte ligação ao terror literário e cinematográfico do rock e metal juntam os hobbies de escrita, bateria e jogos de computador, claro.