Chuva de Estrelas

de Helena Menezes

 

Deitados na relva, aguardavam o noticiado e raro fenómeno. O céu recheado de constelações e poeiras inspirava a conjeturar sobre o cosmos. Foi o pai, o mais aficionado, que identificou a primeira estrela-cadente. Para seu espanto, a luz identificada seguia uma trajetória improvável, para si direcionada. O rasto hipnotizante foi seguido por toda a família e rapidamente se transformou numa nuvem de descolagem de helicóptero que atordoava os sentidos. No meio da poeira estranhamente iluminada, que demorava a assentar, ninguém reparou. E, mesmo depois de algum tempo de discussão sobre o evento, continuaram a não reparar. A história que as memórias contavam tinha surgido, única e condizente: meses antes, o pai tinha morrido de cancro. Os registos e noção coletiva também o confirmavam. O pai, esse, transformado numa emulsão metálica que corria nas veias de um corpo maior, já não conjeturava. Sabia, sem dúvida, que havia outros seres no Universo. 


SOBRE A AUTORA

Helena Menezes

Nasceu em Lisboa em 1981. Licenciou-se, tirou mestrado e trabalhou como bolseira de investigação, na área das Ciências da Paisagem, entre 2007 e 2013, na Universidade de Évora. Paralelamente à escrita científica, foi fazendo incursões na escrita criativa. Arjuna e o Espírito do Tigre (conto infantojuvenil, Ed. Primeiro Capítulo) foi o primeiro livro, publicado no final de 2022. Participou na coletânea 13 Autoras em Vénus (poesia erótica, Ed. Vieira da Silva) lançada em abril de 2023. Iniciou-se na escrita do terror, algo despoletado pela masterclass do Pedro Lucas Martins, visualizada recentemente na formação «Livro em Ação».