Divina Arena

de Helena Menezes

 

É tempo de festa. De banquetes fartos, egos despidos e prazeres sombrios. Da exploração dos fracos pelos poderosos e da resultante ordem universal. 

A arena, faminta, transpira por sangue fresco e perversidade. Daquela em que os homens se despem da moral e se transformam nas feras que naturalmente são. 

Semanas antes, as bestas teriam sido desprovidas das mínimas condições, de forma a deteriorar a sua existência e espicaçar a sua agressividade. Tudo formas de criar entretenimento de qualidade.

Empurrados para a grande arena, os seres indefesos sentem a ira dos deuses, correm dominados pelo medo e choram pelos touros que em tempos instigaram, ao serem esventrados e devorados pelas criaturas mitológicas a eles lançadas.

Era a vil Antropomaquia de Tártaro, espetáculo preferido do filho inferior de Zeus. No seu submundo, o tempo para festas escasseava. E o massacre dos homens vivos era incomparavelmente mais interessante do que o dos mortos.

SOBRE A AUTORA

Helena Menezes

Nasceu em Lisboa em 1981. Licenciou-se, tirou mestrado e trabalhou como bolseira de investigação, na área das Ciências da Paisagem, entre 2007 e 2013, na Universidade de Évora. Paralelamente à escrita científica, foi fazendo incursões na escrita criativa. Arjuna e o Espírito do Tigre (conto infantojuvenil, Ed. Primeiro Capítulo) foi o primeiro livro, publicado no final de 2022. Participou na coletânea 13 Autoras em Vénus (poesia erótica, Ed. Vieira da Silva) lançada em abril de 2023. Iniciou-se na escrita do terror, algo despoletado pela masterclass do Pedro Lucas Martins, visualizada recentemente na formação «Livro em Ação».