Estrelas

de Inês Garcia Morais

 

«A resposta está nas estrelas», dizia ela, abraçando a saia de luas bordadas.

Todos os dias, a fé desmedida e unilateral em textos divididos em doze. Todos os dias, a busca do conforto que não encontrava no mundano. 

O quadro surrealista que era a sua existência era invariavelmente comentado como adorável — ou, por vezes, inconveniente —, mas nunca perigoso. 

O mistério é sempre bonito quando não é vivido.

Em cada passo diário e nas relações próximas, procurava a confirmação daquilo que lera, cada obstáculo sendo a prova de que algo falhara na interpretação. 

«As constelações, elas sabem.» 

Em total devoção de que um destino mágico a aguardava, a preocupação alheia era ignorada; a isolação, por fim, uma consequência inevitável. O céu, no entanto, permanecia em silêncio, enquanto o seu domínio sobre a realidade, aos poucos, se desfazia.

Foi na noite em que o desgosto a visitou que o desespero tomou forma, a noite que lhe levou os olhos, a garganta e o coração à agonia. Foi nessa noite que o telhado pareceu o melhor lugar para ouvir qualquer mensagem vinda do firmamento, e que o vento pudesse trazer. 

O sussurro dela foi o único som num breu imenso e sem magia. 

E, ao cair, nenhuma estrela falou.

 

*Este texto foi redigido segundo o Acordo Ortográfico de 1945

SOBRE A AUTORA

Inês Garcia Morais

Gryffindor nascida a agosto de 1986.

Licenciada em Estudos Anglo-Americanos (2009), com pós-graduações em Tradução e Arte e Educação. Fascinada por Poe e Gaiman; Burton, Spielberg e Aronofsky; cidadã de Gotham, Hogsmeade e Rivendell; fã de Zimmer e música dos anos 90.

Com dez anos de experiência em ensino, trabalha agora em integração e well-being.
Foi escrevendo sobre filmes e séries, e completando diversas formações
em Escrita Criativa.

Hoje, o seu propósito passa por explorar e partilhar a terapia existente nas histórias que amamos.
Acima de tudo, acredita que transformar emoções em vida contada é a mais bela das homenagens.