Janeiras

de Paulo Fernando

Fim de tarde do dia dois de janeiro. O ano começou frio, e este dia fez-lhe justiça, com uma cortante brisa fria. Apesar disso, há bulício no pequeno bairro: um grupo de crianças, não mais do que cinco, circula pelas ruas, como pequenos perus anafados, nos seus gorros e blusões grossos, a anunciarem, porta a porta:

Vamos cantar as janeiras

A quem tem a candeia acesa

Rabanadas, pão e vinho novo

Matava a fome à pobreza

De várias casas onde passaram, receberam chocolates, guloseimas, algumas moedas, castanhas, até chegarem à porta da última casa, a da lâmpada trémula além do beco escuro com cheiro a lixo.

Soa a campainha, a porta abre para um idoso de brilho nos olhos e sorriso rasgado, que diz:

— Entrem, meninos!

No instante seguinte, entre o tlintar de facas a afiar, grita:

— Baba, atiça a brasa que já chegou o jantar!

 

SOBRE O AUTOR

Paulo Fernando

Paulo Fernando, nascido em Lisboa, a 26 de setembro de 1981, licenciou-se em Línguas e Literaturas Modernas, variante Português e Inglês, e conta com várias especializações em tradução audiovisual, sendo a tradução e legendagem de vários conteúdos a sua principal atividade, aliada à locução e narração de audiolivros.

É fã incondicional do romance gótico Vitoriano, especialmente condimentado pela formação académica, de literatura fantástica, sword & sorcery (herança infantil dos livros RPG, como os da Jambo Editora) e ficção científica.

Dá preferência a contos, tendo como referências nomes como os Irmãos Grimm, Edgar Allan Poe e H. P. Lovecraft. Anne Rice, J. R. R. Tolkien, ou Neil Gaiman são nomes que também encontrarão facilmente na sua estante.

 

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