O Corredor que Dança

De Nuno Amaral Jorge

 

Não havia nada a fazer. Os cortes sangravam profusamente. Até para mim o cheiro a cobre e a vida escorrente era activo, quase insuportável. E era apenas o início.

A minha única hipótese era o corredor de coral. O sal da água podia doer, embora não fosse o pior. As cascas cortantes dos moluscos e a rocha aguçada abririam os cortes, criando outros até. Mas era passar pelo corredor ou sentir novamente as dentadas.

Na verdade, aguçadas por aguçadas, prefiro as presas estáticas da rocha a outras mais vivas, numa boca voraz. Além disso, a água desinfecta um pouco, e prefiro atravessar o corredor que dança com ela.

Ainda que me mate. Ou talvez por causa disso.

 

 

 

*Este texto foi redigido segundo o Acordo Ortográfico de 1945

SOBRE O AUTOR

Nuno Amaral Jorge

Nuno Amaral Jorge nasceu em 1974. É jurista, fotógrafo amador e escritor freelance, além de bibliófilo. É guionista no projeto de banda desenhada portuguesa Apocryphus, desde a sua primeira edição, em 2016. Em 2018, publicou um livro de contos infantojuvenis chamado A Joaninha ao Contrário e Outras Histórias, e em breve será publicado um segundo volume de contos, ambos pela editora Ideias com História. Em 2019, publicou um romance chamado As Três Mortes de um Homem Banal,  pela Editora Planeta e, em 2020, participou na antologia de contos na edição comemorativa dos 30 anos da APAV, À Roda de uma Vontade. Em 2022, publicou um conto na antologia Os Medos da Cidade, da Editorial Divergência e pretende acabar um romance que se encontra «a meio», bem como um conjunto de contos de terror e fantástico. Stephen King é a sua referência.