O Corredor que Dança
De Nuno Amaral Jorge
Não havia nada a fazer. Os cortes sangravam profusamente. Até para mim o cheiro a cobre e a vida escorrente era activo, quase insuportável. E era apenas o início.
A minha única hipótese era o corredor de coral. O sal da água podia doer, embora não fosse o pior. As cascas cortantes dos moluscos e a rocha aguçada abririam os cortes, criando outros até. Mas era passar pelo corredor ou sentir novamente as dentadas.
Na verdade, aguçadas por aguçadas, prefiro as presas estáticas da rocha a outras mais vivas, numa boca voraz. Além disso, a água desinfecta um pouco, e prefiro atravessar o corredor que dança com ela.
Ainda que me mate. Ou talvez por causa disso.
*Este texto foi redigido segundo o Acordo Ortográfico de 1945
SOBRE O AUTOR
Nuno Amaral Jorge
Nuno Amaral Jorge nasceu em Lisboa, no ano de 1974. É jurista, fotógrafo amador e escritor freelance. É guionista de BD, publicou contos em várias antologias, dois romances e dois livros infantojuvenis. Destaca títulos como os romances As Três Mortes de Um Homem Banal e A Passagem, bem como o conto «Coelho Branco», publicado na antologia IN/SANIDADE, e com o qual ganhou Grande Prémio Adamastor de Ficção Fantástica em Conto – 2024.
Stephen King, Julian Barnes, Rosa Montero, Neil Gaiman e Alan Moore são algumas das suas referências.
Vive em Carnaxide com a sua companheira, os seus três gatos, e é um feroz defensor do maximalismo da liberdade de expressão, artística ou de qualquer outra tipologia.







