O Mestre do Disfarce
De Nuno Amaral Jorge
Eduardo Gegin estava zangado. E tinha razão para tal. Só faltava uma semana para a véspera do Dia de Finados.
Desde que descobrira o que era a noite das bruxas, não falhara um desfile. E fazia sempre sucesso. Algumas pessoas tinham até dificuldade em olhar para ele, mas admiravam sempre as suas máscaras.
Pela sala, ouviam-se os ruídos provocados por movimentos rápidos e estertorosos. Eduardo ignorava-os.
Não tinha problemas em encaixar os narizes. Eram as orelhas que nunca assentavam. Irritado, olhou para o homem nu e amarrado na marquesa metálica, que tentava desesperadamente libertar-se.
Vou ter de cortar mais junto à linha do cabelo, pensou, de forma quase consoladora, enquanto pegava no bisturi. Se calhar, é mais fácil se passar a anestesiar. Agora, não tenho tempo. Mas da próxima não passa.
*Este texto foi redigido segundo o Acordo Ortográfico de 1945
SOBRE O AUTOR
Nuno Amaral Jorge
Nuno Amaral Jorge nasceu em Lisboa, no ano de 1974. É jurista, fotógrafo amador e escritor freelance. É guionista de BD, publicou contos em várias antologias, dois romances e dois livros infantojuvenis. Destaca títulos como os romances As Três Mortes de Um Homem Banal e A Passagem, bem como o conto «Coelho Branco», publicado na antologia IN/SANIDADE, e com o qual ganhou Grande Prémio Adamastor de Ficção Fantástica em Conto – 2024.
Stephen King, Julian Barnes, Rosa Montero, Neil Gaiman e Alan Moore são algumas das suas referências.
Vive em Carnaxide com a sua companheira, os seus três gatos, e é um feroz defensor do maximalismo da liberdade de expressão, artística ou de qualquer outra tipologia.