O Panteão

De Carlos Filipe Matos

 

Removi-lhe as unhas, as orelhas, o escalpe. Dei-lhe de comer. Ela fez-me o mesmo. Deu-me de comer às crianças. Elas tinham de assistir a tudo. Depois, usaram óleo para nos queimarem vivos. Pedimos-lhes que esperassem um dia até continuarem. 

Voltámos e escondemo-nos. Tínhamos alguns minutos antes de começarem, assistimos pelas janelas da sala. A mais nova matou a mais velha com quarenta facadas e suicidou-se com trinta (as nossas idades). Entrámos, desmembrámos os corpos enquanto os comíamos. Enviámos os ossos para o panteão como oferta. 

Há meses que ninguém tinha conseguido algo tão macabro. O júri adorou. Subiram-nos para terceiro na classificação.

Aqui, torturamos e matamo-nos todos os dias. A família vencedora será aceite na nova civilização. Lá dentro, viveremos e morreremos como humanos. Felizmente, os menores de doze não se lembram do dia anterior após serem clonados, mas só temos três meses até ao décimo segundo aniversário das gémeas.

 

 

 

*Este texto foi redigido segundo o Acordo Ortográfico de 1945

SOBRE O AUTOR

Carlos Filipe Matos

Carlos Filipe Rilhó de Sousa Matos nasceu em Faro a 21 de julho de 1981. Depois de Ficheiros Secretos, Twin Peaks, Twilight Zone, Riget e outros, veio o interesse por literatura de terror, com um interesse pouco saudável nos cenários macabros de Clive Barker, Lovecraft, H.R. Giger, Junji Ito e amigos. A forte ligação ao terror literário e cinematográfico do rock e metal juntam os hobbies de escrita, bateria e jogos de computador, claro.