Tudo Calmo

de Carla Carmona

 

Após a ronda, regresso ao meu cubículo. Sento-me frente aos monitores. Tudo calmo. Pego na minha sandes de atum. Dou a primeira dentada e ouço uma melodia. Em alerta, verifico todos os ecrãs. Nada suspeito. De onde viria a música?  

Levanto-me e abandono a sala. No corredor, viro à direita. O som parece vir dali, do gabinete dos vendedores. De rompante, abro a porta e acendendo a luz. Vazio. O silêncio voltara. Na divisão, não havia qualquer aparelho que pudesse emitir um som.

Regresso ao meu posto. Fecho a porta e sento-me, a olhar para as imagens. Tudo calmo. Estendo a mão à sandes, mas não está onde a deixei. Procuro-a no chão. Só encontro o papel de alumínio amarrotado. A canção volta e embala-me.

De olhos abertos, vejo-me imobilizado por algo branco e rendilhado.

Grito. 

Esperneio. 

E ouço a mesma melodia.

 

*Este texto foi redigido segundo o Acordo Ortográfico de 1945


SOBRE A AUTORA

Carla Carmona

Natural de Castelo Branco, residente no concelho de Odivelas, licenciada em Gestão pela UI e com um MBA em Gestão pelo ISCAL. Tem um percurso profissional nas áreas da Contabilidade e Financeira. Em criança e adolescente, era uma devoradora de livros, rabiscando contos e outras histórias. A vida afastou-a do mundo das Letras, mas a paixão e vontade de saber mais impulsionaram-na a frequentar cursos de escrita.

A primeira experiência literária acontece com a participação numa coletânea de contos, Que o Caminho Não nos Fuja, sucedendo-se participações na revista literária PALAVRAR.
Encara a vida com um sorriso e uma gargalhada.