Livro recomendado: «Conta-me, Escuridão»

Escrito por Mafalda Santos e ilustrado por David Benasulin.

De uma «provocação artística», como os autores revelam no final do livro, nasceram 8 contos de terror, para lá dos limites da imaginação.

Sandra Henriques

O nosso livro está à venda!

Antes de vos falar deste livro — cuja recomendação chega à Fábrica do Terror um pouco tarde, mas não fora de prazo —, preciso de vos contar o peso da existência de Conta-me, Escuridão. Ao mesmo tempo que este livro estava a ser anunciado ao mundo, 15 autores estavam a um par de meses de se estrearem como autores de terror publicados na antologia Sangue Novo. E pareceu-me uma convergência planeada pelo Universo: a Mafalda Santos era um nome novo na literatura contemporânea e estava a publicar terror, em português, com uma editora «das grandes». Daí a uns meses, lançaríamos a primeira pedra da Fábrica do Terror, e este livro foi um dos primeiros sinais de que estávamos no caminho certo.

A Mafalda, que à data de saída deste artigo já terá lançado o seu terceiro livro (Enquanto o Fim Não Vem), costuma dizer que não é «autora de género», apenas porque, quando escreve, está somente a pensar na história. Mas, tanto no Conta-me, Escuridão como no Do Outro Lado (um romance distópico), a autora não tem medo de ultrapassar os limites e levar os leitores ao lado mais tenebroso e horrível do ser humano. É uma pena que a Mafalda não se dedique só ao terror, mas percebo e respeito a sua posição.

De entre os oito contos desta coleção, sem desprimor às outras histórias, «Tríptico» foi aquele que mais me abalou o sistema: pelo amor/desamor entre as personagens, pela brutalidade que não choca de forma gratuita, pela dor e pela culpa (avassaladoras, mas que não desculpam tudo. Ou será que desculpam?). De tal forma que, quando terminei o livro, regressei a ele. Desde então, já regressei uma terceira vez. E diabos o levem.

É a imaginação deliciosamente deturpada de Mafalda Santos que transforma as histórias das suas personagens em episódios que nos vão perseguir no escuro, naquele lusco-fusco entre o adormecer e o sono profundo, mas as ilustrações de David Benasulin para cada um dos contos também deixam espaço para mais histórias. Sugiro que espreitem apenas no final os quadros que inspiraram os contos que, por sua vez, inspiraram as ilustrações.


Leiam com a certeza de que há espaço para o terror português na literatura contemporânea (e não só através de uma editora independente de nicho) e com a esperança de que, estando as portas abertas, poderá haver muito mais.