Crítica a The Exorcism of God, de Alejandro Hidalgo
Filme de terror venezuelano, vencedor do Prémio de Melhor Realização no Fantasporto 2022
De Patrícia Sá, Marta Nazaré, Cláudio André Redondo e Maria Varanda
The Exorcim of God (2021), filme de Alejandro Hidalgo, conta-nos a história de um padre que, ocultando os próprios pecados, se envolve num exorcismo malsucedido, cujas consequências retornam ao fim de dezoito anos.
A obra alude ao classicismo, chamar-lhe-emos, dos filmes sobre possessões demoníacas. A caracterização visual exagerada é um modo fácil de corromper a inocência das personagens, desde a possessão de mulheres jovens e bonitas ou de esculturas sacras até à doença e morte de crianças. Chega até a aludir a uma certa caracterização «zombiesca». Apesar de exuberante, a caracterização através da maquilhagem está bem conseguida e parece real, dentro do fantástico.
Will Breinbrick representa satisfatoriamente bem a sua personagem, embora a mesma careça de uma maior luta interna. O ator interpreta um padre que, em vez de querer realmente confessar-se e tornar-se um homem livre de segredos e pecado, o faz apenas para — lá está, falta um pouco de feminismo no mundo dos filmes de possessões demoníacas — salvar donzelas (e crianças) indefesas.
Se o leitor e amante de filmes de terror for, também, um grande fã de sustos por sobressaltos, então este é o filme para si. Infelizmente, The Exorcism of God falha completamente em aterrorizar o espetador a nível psicológico ou emocional.
No entanto, o conceito de exorcizar Deus como uma entidade que, como os demónios, pode ser expulsa do corpo que possui é um conceito digno de relevância. Esta noção — que dá nome ao filme — tinha um grande potencial, mas acaba por se perder um pouco numa cinematografia de grandes ruídos e clichés. O som define, assim, muitos dos sustos. Este, apesar de claramente bem gravado e cuidado, marca o filme com exagero.
Na imagem e fotografia, o filme deixa o espetador satisfeito, fazendo um bom uso de uma miríade de tonalidades, fugindo ao lugar-comum dos filmes quase-monocromáticos que têm surgido. O contraste entre as imagens dos campos mexicanos, a riqueza das figuras sacras e a pobreza e simplicidade das cenas hospitalares e prisionais foi bem conseguido, sendo passível de desencadear uma diversidade de sensações.