Paula Rego e Adriana Varejão no Centro de Arte Moderna Gulbenkian

«Entre os Vossos Dentes», em exposição até 22 de setembro de 2025.

Duas artistas de gerações diferentes com temas parecidos. Há terrores do quotidiano que teimam em não morrer.

Fotografias de Pedro Pina

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Sandra Henriques

Em abril de 2025, saiu uma antologia com um conto meu, em inglês: «All I Have to Send You Is This Postcard». Terá sido a primeira vez que tive uma inspiração muito forte; consciente, pelo menos. Não revelo nada, mas posso dizer que o mote do conto foi dado por um quadro de Paula Rego, incluído na exposição do CAM Gulbenkian, Entre os Vossos Dentes — uma obra que só conhecia de nome e de vê-la na Internet, e que (deixem-me acreditar em coincidências do Universo) veio ter comigo na semana de lançamento dessa antologia com o meu conto.

Nesta exposição, as obras de Rego e Varejão dialogam, complementam-se, acrescentam algo à perspetiva da outra. O que é, de certa forma, triste, quando as duas artistas têm quase 30 anos de diferença (mas ainda tiveram o privilégio de conviver). Parece que tudo tem andado a passo de caracol: as conquistas dos direitos das mulheres (não como nós queremos, mas como é «de momento possível»); a consciência das consequências do colonialismo; o fim (sempre demasiado longe) da misoginia; a violência contra as mulheres.

Ao longo de 13 salas — construídas na nave principal, e que formam uma espécie de labirinto ao qual podes fugir, mas não podes escapar, porque as obras te espreitam pelas frestas —, posso dizer que a experiência foi sempre visceral, rasgada e íntima. E familiar; não no sentido de «podem levar as crianças» (por favor, não o façam), mas no sentido de conhecermos muito bem aquelas histórias.


É uma exposição que se vê devagar, aproveitando, sempre que queiram, os intervalos para respirar. Não há um percurso recomendado, mas o caminho faz-se mais ou menos a direito e sai-se pela mesma porta por onde se entrou — podemos escolher não olhar, mas obriga-nos a ver.


Fotografias de Pedro Pina