TRAUMA no Convento da Encarnação em Lisboa
A nova experiência do Projecto Casa Assombrada estreou dia 18 de abril.
Michel Simeão desenhou mais uma peça de teatro imersivo, onde todos temos um papel. Mesmo quando decidimos ser apenas espectadores.
Por Sandra Henriques, com a colaboração de Maria Varanda | Fotos de Guilherme Gouveia
Não é um escape room, não é uma experiência para provocar o grito fácil (embora possam expurgar todos os medos se assim o quiserem).
As histórias de Michel Simeão têm o propósito de colocar o dedo em sal, pô-lo na ferida e deixá-lo lá até que o incómodo (a dor, mesmo) nos abra os olhos.
Como sempre, não podemos dizer muito, apesar de — depois da atuação inicial onde se estabelece o resto da narrativa — eu e a Maria termos sido separadas para fazermos percursos diferentes (já lá vou).
Em TRAUMA, somos convidados a seguir de perto (muito de perto; preparem-se para ser ágeis e não empatar caminho) Adriana Moniz, Michel Simeão e Ricardo Denzel no papel de três amigos de longa data que decidiram invadir o Convento da Encarnação para passar a noite. Eu, sempre desconfiada e com as antenas ligadas, só tenho pena de não ter olhos na nuca. Posso, contudo, assegurar que as cenas no claustro são bastante tranquilas — o objetivo é mesmo dar contexto sobre aquelas personagens e a história (ficcionada) do convento.
Alguns minutos depois, as 13 pessoas, já descontraídas e confiantes de que pior não vai ficar (muhahahaha), abandonam sem remorsos os três amigos e seguem um grupo de novas personagens até ao segundo piso, onde estas vão revelar aos poucos o que realmente se passa atrás daqueles muros altos. Uma nota logística: esta sala não é pequena, mas podem ter de sacrificar o sítio que escolheram para terem a melhor vista, em detrimento das movimentações do elenco.
Falava eu da intenção do autor em pôr o dedo na ferida, porque o terror serve para nos obrigar a tirar os óculos cor-de-rosa e sair da bolha. Michel Simeão sabe isso muito bem e fá-lo melhor ainda. Posso partilhar convosco que o final da primeira parte — cru e sem paninhos quentes — foi, pelo menos para mim, particularmente difícil de digerir, e nem a pausa «para respirar» me tranquilizou. Foi inevitável que tivesse reconhecido, naquela personagem, o sofrimento de pessoas que me são próximas.
Avancemos para a segunda parte, onde vou ser vaga:
- O grupo é dividido ao meio, em duas filas;
- A cada pessoa é entregue um percurso (o meu foi o 3; à Maria calhou o 8);
- As pessoas com o mesmo percurso fazem um par (ou, em caso de número ímpar, há quem ganhe o prémio de passar por tudo sem companhia);
- Cada ronda no percurso equivale a um quarto, onde deves entrar, mas não necessariamente ficar até ao fim se não te sentires confortável;
- Em cada quarto, podes interagir (ou não) com o elenco — desde já, as minhas desculpas, «Rodinhas», «Cândida» e «Dador 92C2L», mas eu sou uma pessoa terrível que fica ali, especada, a ver até onde vai a cena; já a Maria não abdica de contracenar.
Num dos quartos, onde obrigatoriamente temos de colocar auscultadores (estão assinalados com esse ícone no percurso), estive para abraçar o trauma, mas depois tinha de o trazer para casa e não tenho espaço.
Bilhetes à venda na Ticketline.
Recomendado para maiores de 16 anos.
De 18 de abril a 31 de maio.
Preço: 24 €.
Duração: 75 minutos.
Sessões às sextas-feiras e sábados, a partir das 20 h 30. Os participantes devem fazer o check-in 20 minutos antes do início da sessão.
GOSTASTE? PARTILHA!

Sandra Henriques
Sandra Henriques estreou-se na ficção especulativa em 2021, ano em que ganhou o prémio europeu no concurso de microcontos da EACWP com «A Encarregada». Desde aí, publicou contos em várias antologias de terror nacionais e internacionais e contribuiu com o artigo «Autoras de Terror Português» para a Enciclopédia do Terror Português, editada pela Verbi Gratia. Em 2022, cofundou a Fábrica do Terror, onde desempenha a função de editora-chefe.