«Como Cozinhar Uma Criança», de Afonso Cruz
Temos de cozinhar as crianças para não se tornarem adultos intragáveis.
Neste drama teatral, dois cozinheiros discutem qual a melhor forma de cozinhar uma criança. Cada um defende a sua receita. Um é mais literal, o outro mais metafórico, mas ambos estão convictos de que a sua abordagem culinária é a correta.
Recomendado para 7+
O primeiro, cozinheiro prático e sem meias-medidas — certamente um seguidor das dicas gastronómicas da bruxa de Hansel e Gretel —, manda as crianças descalçarem-se e entrarem logo na panela para dar início à empreitada. Esqueçam a imaginação. É preciso seguir a receita à risca, cozinhar bem a carne, decidir os acompanhamentos, acrescentar sal e ervas aromáticas para dar sabor e, por último, servir o prato com esmero. Mas quem é que quer que as crianças cresçam? O importante é alimentar a sociedade.
O segundo, cozinheiro imaginativo e paciente, argumenta com metáforas que um bom cozinhado necessita de um toque especial — bondade, inteligência, afetos — e temperos fundamentais — beijos e abraços. As crianças precisam de doses de paciência, tempo e dedicação para desenvolverem ideias e imaginação.
Em suma, as crianças são a proteína de eleição em qualquer prato, por serem mais tenras, mais moldáveis. Estão «recheadinhas de possibilidades», muito melhores do que os adultos demasiado cozinhados.
E, se as «cozinharmos a tempo», com os ingredientes do segundo cozinheiro, estarão munidas de ferramentas e serão mais capazes de fazer a diferença, de tornar o mundo um lugar melhor, na hora de caminharem pelo próprio pé. É assim que se formam adultos empáticos, responsáveis e criativos.
Os adultos resignados, porém, tiveram a infelicidade de terem sido crianças cozinhadas com os maus ingredientes do primeiro cozinheiro.
Como Cozinhar Uma Criança, de Afonso Cruz, com método e receita, está publicado em Portugal pela editora Alfaguara. Faz parte do Plano Nacional de Leitura.
O texto apresenta-se como uma peça de teatro humorística e imaginativa, para ser representada em casa ou em contexto de sala de aula, e arrancar muitas gargalhadas ao público e aos seus participantes.
As ilustrações, da autoria do próprio autor, combinam desenho com fotografias de objetos. Não acompanham particularmente o desenrolar da conversa entre os dois cozinheiros e as crianças, mas são um acrescento visual bonito que articula o real com o imaginário, complementando a leitura.
Mas, afinal, as crianças chegam MESMO a ser cozinhadas neste livro?
Bem… Só vos posso dizer que a reviravolta no final é tão engraçada como a própria história.
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Marta Nazaré
Marta Nazaré, nascida em Lisboa, a 5 de março de 1981, é formada em Letras e Tradução de Inglês. Dedica-se a tempo inteiro à tradução de livros infantojuvenis e à legendagem de filmes e séries.
Descobriu o terror em tenra idade na papelaria do bairro que vendia a coleção «Arrepios», de R. L. Stine. Ainda hoje, o terror infantojuvenil é o seu género preferido.





