Crítica a «A Banquet», de Ruth Paxton

Candidata ao Prémio Méliès d’Argent – Melhor Longa Europeia

Ruth Paxton estreia-se nas longas-metragens com esta história negra e angustiante de três mulheres (a mãe Holly, recentemente viúva, e as suas duas filhas, Betsey e Izzy). É, sobretudo, uma história de perda: do «homem da casa», de controlo, de identidade. 

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Sandra Henriques

Há momentos negros (escuros, como a noite da bloodmoon que, aparentemente, despoleta a mudança de Betsey, e como a decoração da casa de família), mas senti falta dos momentos de terror propriamente ditos. Sim, há alusões a entidades demoníacas e lendas japonesas (que me fizeram pensar «é agora!»), mas aparecem tão tarde na narrativa que, sabendo que o filme está quase a terminar, confirma que nada de extraordinário vai acontecer. Não é que eu precise de jump scares para considerar um filme como de terror, mas um poucochinho mais de body horror (daquele que me provoca o vómito e que não seja mostrado como parte de um pesadelo) não lhe tinha feito mal nenhum. Assim, é só uma representação bastante toned down de um distúrbio alimentar (neste campo, estou a lembrar-me da perfeição que é o Raw, de Julia Ducournau, por exemplo), provavelmente para apelar a um público mais abrangente.


Para fãs de terror, contudo, era preciso mais — talvez por isso algumas das cenas dramáticas do filme tenham arrancado gargalhadas a várias pessoas na sala quando se esperava um silêncio de suster a respiração.


As personagens mais novas mudam de personalidade em poucos meses (qualquer progenitor com filhos adolescentes identifica-se). Os homens são relegados para papéis secundários (o marido doente, o dentista, o médico, o treinador de patinagem artística, o conselheiro da faculdade, o namorado compreensivo), mas que, sem considerar as consequências, deixam as três mulheres sem grande poder de decisão (e levam-nas a anularem-se de alguma forma).

É, efetivamente, Holly (Sienna Guillory) que carrega a narrativa às costas, assumindo-se como a mãe controladora — uma fachada de resistência e um reflexo do seu luto (no novo papel como mãe solteira) e da sua relação difícil com a própria mãe, June (Lindsay Duncan), que nunca assume culpas e atribui tudo o que está errado a fatores externos. Incompreendida, criticada e rodeada de pessoas que acham que sabem o que é melhor para ela, Holly quase que segura as pontas até ao fim, mas deixa-se levar pela vulnerabilidade do desespero.


Mas é terror psicológico este filme? Para o ser, teria de ter descido muito mais fundo, com vontade assumida de chocar.


Ruth Paxton, a realizadora do filme

Cartaz de A Banquet