MOTELX 2024: Antevisão da Programação
De 10 a 16 de setembro, no Cinema São Jorge.
Os muito aguardados Sasquatch Sunset, In a Violent Nature e Oddity, a mais recente longa de Edgar Pêra sobre Pessoa e Lovecraft criada com IA, a recordação da primeira obra cinematográfica do maestro António Victorino D’Almeida, o ciclo de filmes de terror proibidos pela ditadura e o elevado número de curtas portuguesas em competição preenchem para já o corpo de novidades do 18.º MOTELX.
Foi apresentado no dia 15 de julho, na Sala 3 do Cinema São Jorge, um robusto leque de novidades da 18.ª edição do MOTELX – Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa.
De 10 a 16 de setembro, a casa de cinema da Avenida da Liberdade volta a ser a morada oficial da grande festa do terror e o lugar por onde desfilam os principais títulos contemporâneos do cinema de género, com passagens pelas suas raízes e coordenadas para o futuro. Sete dias de ferozes estreias exclusivas, revisitações de clássicos, convidados, conversas e parcerias, numa alucinante programação que mantém o MOTELX na linha da frente dos festivais mundiais.
Entre as novas confirmações, um dos maiores destaques vai para o mais recente e inesperado filme dos irmãos norte-americanos David e Nathan Zellner, Sasquatch Sunset (com produção executiva de Ari Aster), um retrato bizarro e rigoroso da vida quotidiana de uma família de criaturas.
Também a estrear em solo nacional, distinguem-se o arrepiante thriller do realizador alemão Tilman Singer, Cuckoo, que tem por cenário um resort nos Alpes repleto de segredos obscuros, com Hunter Schafer, actriz da série Euphoria; os canadianos In a Violent Nature, de Chris Nash, e Humanist Vampire Seeking Consenting Suicidal Person, de Ariane Louis-Seize; e a co-produção EUA e Reino Unido, Your Monster, de Caroline Lindy.
Da Europa, chegam o irlandês Oddity, pesadelo paranormal de Damian McCarthy – uma das revelações do último SXSW – , e o francês Plastic Guns, de Jean-Christophe Meurisse, autor de Laranjas Sangrentas. Ambos completam para já as novidades da secção Serviço de Quarto e somam-se aos anteriormente anunciados The Devil’s Bath (Áustria, Alemanha), de Veronika Franz e Severin Fiala, Exhuma (Coreia do Sul), de Jang Jae-hyun, e Sayara (Turquia), de Can Evrenol, convidado no Festival.
Em 2024, entramos novamente pelo Quarto Perdido adentro para descobrir mais filmes e cineastas que definem o terror português. A Culpa (1980) representa a estreia em cinema do compositor e maestro António Victorino D’Almeida (com presença garantida na sessão) e um dos primeiros exemplos de ficção, depois do 25 de Abril, sobre a guerra colonial. A viagem pela filmografia de género do país tem outra paragem em As Desventuras de Drácula Von Barreto nas Terras da Reforma Agrária (1977), uma curta-metragem desenvolvida pela Célula de Cinema do PCP.
O 18.º MOTELX inaugura ainda uma secção que sublinha obras inqualificáveis da sétima arte. A Sala de Culto resgata o telefilme da RTP Experiência em Terror (1987), de António de Andrade Albuquerque, totalmente criado com amadores e baseado num conto de Dick Haskins (pseudónimo literário do realizador), e apresenta o buddy movie independente O Velho e a Espada (2024), de Fábio Powers, uma ode à série B, rodada na Beira Baixa e pronta para se tornar lendária.
Também um manifesto da excelente forma do terror feito por cá verifica-se no número de filmes em competição. Fruto da lógica evolutiva e da vitalidade da produção de género em Portugal e na Europa, de que o MOTELX é um dos maiores catalisadores, oito títulos nacionais disputam o Prémio Méliès d’argent – Melhor Curta Europeia 2024: Antes do Nascer da Lua, de Mário Patrocínio; O Camaleão, de Tiago “Ramon” Santos; Canto, de Guilherme Daniel; Estéril, de João Pais da Silva; The Hunt, de Diogo Costa; Nuclear, de David Falcão; Quanto Pesa um Corpo?, de Gabriel Garcia Nery; e Unicorn Hunting, de Miguel Afonso.
Quanto aos alinhados para o Prémio MOTELX – Melhor Curta de Terror Portuguesa 2024 – o maior prémio monetário para curtas-metragens do país e a competição mais importante do Festival -, estes solidificam o dinamismo do cinema de género luso, com uma dezena de filmes a concurso: After Link, de Catarina De Cèzanne; Holofote, de Camilla Ciardi; Menor que Três, de Dan Martin, Sofia Pessoa Pádua, Mariana Cabecinha e Cláudio Monteiro; The Night Hunter, de Paulo Leite; Parem de Olhar para Mim, de Carolina Aguiar; Penrose, de Alessandra Roucos e Maria Teresa Teixeira; O Procedimento, de Chico Noras; Putto, de Carlos Calika; Santanário, de João Pedro Frazão; e Umbral, de Miguel Andrade.
Ainda no campo das competições, o MOTELX retoma a união fundada o ano passado com o GUIÕES – Festival do Roteiro de Língua Portuguesa, que celebra a sua 10.ª edição, para eleger o melhor dos cinco argumentos de terror seleccionados para longas-metragens ainda não produzidas, o Prémio MOTELX GUIÕES 2024.
Il Demonio, de Brunello Rondi (Itália, França, 1963), The Plague of the Zombies, de John Gilling (Reino Unido, 1966), 10 Rillington Place, de Richard Fleischer (Reino Unido, 1971), e Valerie and Her Week of Wonders, de Jaromil Jires (Checoslováquia, 1970), são as fitas banidas pela ditadura presentes no ciclo «A Bem da Nação: Os Filmes de Terror Proibidos pelo Estado Novo», no âmbito das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril. Além das quatro escolhas, há uma Sessão Surpresa a ter lugar na Sala Rank do Cinema São Jorge, onde, reza a lenda, a censura via e classificava filmes.
Outro tema na programação é o fenómeno da Inteligência Artificial, através da primeira projecção em Portugal, após a estreia em Locarno, do documentário-ensaio Cartas Telepáticas, de Edgar Pêra – um exercício de IA traduzido em arte, estabelecendo elos entre Fernando Pessoa e H. P. Lovecraft -, e do resultado ao desafio colocado pelo MOTELX a cineastas de tentarem usar esta tecnologia contemporânea de forma artística, no AI Horror Short Films Showcase.
Já o amplo motor da vanguarda do cinema de género do Festival, a SectionX, guarda as médias-metragens experimentais Mamántula (Alemanha, Espanha), de Ion De Sosa, e Anapidae (Appelle-moi) (França), de Mathieu Morel.
Quem também respondeu à chamada foi o Lobo Mau. Este ano, a secção menos assustadora do Festival, dedicada ao público mais novo e às famílias, explora o terror sensorial e traz a fábula pós-apocalíptica de animação Flow, do letão Gints Zilbalodis, e a habitual sessão de Sustos Curtos.
No MOTELX Lab, a não perder a apresentação da enciclopédia feminista I Spit On Your Celluloid: The History of Women Directing Horror Movies, de Heidi Honeycutt, com um painel moderado pela associação MUTIM – Mulheres Trabalhadoras das Imagens em Movimento que inclui a autora e ainda a realizadora galesa Prano Bailey-Bond. Associado ao encontro, está reservada a exibição de Censor (Reino Unido, 2021), o terror psicológico de Bailey-Bond acerca de uma censora britânica durante o auge do video nasty.
Ao vasto naipe de novidades, junta-se a entretanto revelada colaboração com o coletivo artístico Liquid Sky. Apontado para os dias 6 e 7 de setembro e integrado no Warm-Up do Festival, o MOTELX AV Lab co-hosted by Liquid Sky Artistcollective ocupa o Beato Innovation District (antes Hub Criativo do Beato) com um desafiante programa de fusão entre música electrónica e terror, que pretende reunir músicos, realizadores, sound designers e artistas ligados ao VJing em workshops de sintetizadores DIY, jam sessions, performances e sessões de cinema underground, e cujos bilhetes já estão à venda na Blueticket.
Sobre as parcerias, este ano renova-se o apoio dos patrocinadores ADLC, BNP Paribas, Seaside, TVCine, Cerveja Coruja e FilmTwist.