Entrevista ao realizador Carlos Calika
Monstros é exibido dia 14, às 18 h 30, e dia 16, às 14 h.
«Gosto de cinema que mexa comigo, não tem de ser necessariamente terror, mas que me mude de alguma maneira. E foi isso que tentei fazer no Monstros.»
A nossa loja está online!
T-shirt – Fábrica do Terror Clássica (costas)
25.00 € (com IVA)T-shirt – Dalila
25.00 € (com IVA)Hoodie – Fábrica do Terror (costas)
46.50 € (com IVA)Hoodie – Fábrica do Terror (frente)
46.50 € (com IVA)Mala – Fábrica do Terror
30.00 € (com IVA)T-shirt – Fábrica do Terror Clássica (frente)
25.00 € (com IVA)Monstros não é o primeiro filme de terror de Carlos Calika, natural de Pombal e um dos organizadores do HaHaArt Film Festival, o festival de cinema de comédia que tem a sua segunda edição em outubro de 2023. Porém, foi a primeira vez que o realizador submeteu um filme do género a um festival. Nesta entrevista, contou-nos que é muito gratificante o filme estar entre os 12 selecionados para o Prémio Melhor Curta de Terror Portuguesa.
***
Como é que tem sido o teu percurso até aqui? Já passaste por muitos países, já trabalhaste em vários projetos.
No cinema, já fiz algumas curtas, e esta é a primeira vez que estou a participar no MOTELX, que era um desejo já antigo, mas não tinha sido possível até agora. Este ano, proporcionou-se por uma série de fatores e cá estamos. Fiz a licenciatura em Cinema na Covilhã; depois, estive um ano em Barcelona a fazer o mestrado; a seguir, fui para o Rio de Janeiro, onde desenvolvi muito trabalho nas favelas. Lá, trabalhei na escola Cinema Nosso, fundada pelo Fernando Meirelles. Mudei-me depois para Londres, à procura de evoluir tecnicamente e de ter acesso a outros equipamentos, onde estive a trabalhar cerca de cinco anos em várias empresas e em televisão, até ao Brexit. Agora, estou em Portugal para fazer o doutoramento em Media Artes, na Covilhã, e para partilhar o meu conhecimento também. Fui dando workshops e, a partir de outubro [de 2023], vou começar a trabalhar no Centro TUMO em Coimbra, como um dos responsáveis pela parte do cinema. Também fiz videoclipes para várias bandas, porque tenho um passado ligado à música e muitos amigos que me convidam para fazer trabalhos. E é assim que tenho sobrevivido e lutado para criar as minhas coisas. Fora isso, faço parte do Cineclube Pombal e organizamos anualmente o HaHaArt Film Festival, que não está em nada relacionado com o terror, apesar de termos filmes de terror de comédia também.
Os dois géneros acabam por se misturar e funcionam bem em conjunto, não é?
Sim, posso dizer que um dos meus filmes favoritos de todos os tempos é o Evil Dead, que é uma perfeita representação disso.
Tens a vantagem de ter passado por vários países, tiveste contacto com várias culturas e formas de trabalhar. Sentes que isso influencia a forma como trabalhas agora?
Desde o início da minha carreira que me considero um realizador de guerrilha, digamos assim. Não gosto de estar sentado atrás de um monitor, sou um bocado control freak, gosto de ter a minha mão um bocadinho em tudo. Para realizar, tenho de estar com a câmara, porque a fotografia é muito importante para mim. E a seguir a isso, na edição, como imagino as coisas de uma certa maneira, e sendo control freak, não confio propriamente noutra pessoa para transmitir a minha ideia. Já o fiz, claro que sim, mas sinto-me mais confortável com equipas pequenas em que eu consiga controlar exatamente aquilo que quero mostrar.
Monstros é o teu primeiro filme de terror?
Não, já fiz filmes de terror, mas nunca participei em festivais. Talvez por não achar que tivessem qualidade suficiente. Tive um filme, World of Death, que foi selecionado para uma compilação nos Estados Unidos há uns anos. Tirando um filme experimental que fiz há dois anos, com telemóvel, e que foi ao Super 9, nunca tinha participado em nenhum festival. O MOTELX foi um desafio. Quando [eu, a Ajidanha e o Teatro Amador de Pombal] decidimos criar esta curta-metragem, o objetivo principal era sermos selecionados, portanto, mesmo não ganhando nada, já ganhámos, porque o objetivo foi cumprido.
O que é que podes contar do filme, sem dar spoilers?
Tem 7 minutos e uma das coisas que gosto de ouvir são as pessoas a dizerem: «Já acabou? Gostava de ver mais.». É bom sinal. É um filme que fala do lado mais horrível da guerra, tem sobrenatural ou não. [risos] Isso depende da interpretação das pessoas, no final. É um filme de guerra, mas sem combates. Com combates mais internos. Também tem gore, obviamente, mas a base é sobrenatural.
Como é que surge a ideia para este filme?
A ideia original desta curta era para um videoclipe de uma banda minha, mas que acabou por morrer e nunca foi feito. Depois, surgiu a possibilidade de fazer uma coprodução [com o Teatro Amador do Pombal] e de realizarmos o filme. Tínhamos um orçamento de 500 € e filmámos em dois dias. Foi tudo feito muito [em modo de] guerrilha, e estamos também muito orgulhosos por termos conseguido fazer o que fizemos com os meios que tínhamos. Éramos três pessoas na equipa técnica. O resto eram atores.
Sentes-te mais à vontade no terror ou na comédia?
Nunca fiz comédia e tenho medo de fazer, ao contrário de terror. Sou capaz de fazer terror com comédia, mas só comédia é possivelmente o género mais difícil, na minha opinião. Para mim, o terror é mais fácil. Cresci nos anos 80, com filmes como o Pesadelo em Elm Street, Sexta Feira 13, Chucky. Gosto de cinema que mexa comigo, não tem de ser necessariamente terror, mas que me mude de alguma maneira. E foi isso que tentei fazer no Monstros. Quando virem o filme, vão perceber que é um pouco perturbador, mas, se calhar, o espectador é que faz mais do filme do que ele propriamente é. Gosto muito de trabalhar com o fora de campo, deixar que o espectador seja ainda mais doente do que eu. [risos]
Passas essa responsabilidade para o outro lado do ecrã, lavas daí as tuas mãos.
Sim, gosto muito de brincar com isso e deixar que as pessoas vejam as coisas à maneira delas.
Além de estares a preparar a segunda edição do HaHaArt Film Festival, em que é que estás a trabalhar agora? Vais voltar a fazer terror nos próximos tempos?
Tenho um filme em produção há cerca de três anos, que não está acabado. Foi um filme que comecei a filmar em Londres, cujo ator principal é o Leigh Gill [que faz de Gary, em Joker]. Tive várias complicações na produção e o filme ainda não saiu. Terá de sair para o ano [2024], inevitavelmente. Não é de terror clássico, mas tem bastante gore. Fora isso, tenho as aulas que vou começar a dar e certamente vou produzir outro filme com a Ajidanha e o TAP. [Esse] não será de terror.
GOSTASTE? PARTILHA!
Sandra Henriques
Autora de guias de viagens da Lonely Planet, estreou-se na ficção em 2021, ano em que ganhou o prémio europeu no concurso de microcontos da EACWP com «A Encarregada», uma história de terror contada em 100 palavras. Integrou as antologias Sangue Novo (2021), Sangue (2022) e Dead Letters: Episodes of Epistolary Horror (2023). Em setembro de 2023, contribuiu com o artigo «Autoras de Terror Português» para a Enciclopédia do Terror Português, editada pela Verbi Gratia. Em março de 2022, cofundou a Fábrica do Terror, onde desempenha a função de editora-chefe.