MOTELX 2024: Crítica às Curtas Para Maiores de 6 Anos
Secção Sustos Curtos.
No segundo ano do Prémio Lobo Mau, foram sete as curtas-metragens em competição. A única curta portuguesa desta sessão de Sustos Curtos, para crianças maiores de seis anos, foi a primeira a dar o mote para os sustos que se seguiram.
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16.50 € (com IVA)Sara Lopo, da secção Lobo Mau, fez uma breve apresentação antes de nos deixar sozinhos no escuro a ver histórias que se concentravam inteiramente no medo das crianças.
Os pequenos espectadores tiveram de enfrentar um assassino dos comboios, um monstro abominável viciado em fotografias, os malefícios dos telemóveis e a necessidade doentia de agradar a todos, entre outros desafios difíceis.
The Calling, de Frida E. Elmström (Suécia, 2021)
Prémio Lobo Mau 2024
Enquanto sentia o vento da floresta, um animal parecido com uma preguiça ouve um uivo, uma espécie de chamamento. Decide investigar e descobre que a sua origem vem do fundo de um poço, por trás de uns arbustos.
Quando a noite cai e o poço se ilumina, a banda sonora e as cores transportam-nos para o desconhecido, dentro e fora de nós. A curiosidade permite-nos ser destemidos, enfrentar os nossos medos e encontrar algo que não prevíamos, como este animal encontrou no fundo do poço.
The Calling, da realizadora Frida E. Elmström, a última curta-metragem a ser exibida, ganhou o Prémio Lobo Mau de 2024. Os três membros do júri do projeto CoolBRAVE elogiaram a forma como a animação apresentou a solidão, a superação do medo para ajudar outro da mesma espécie e a perseverança num momento de crise, sendo esta última reforçada pelos batimentos do coração do animal.
A Suspeita, de José Miguel Ribeiro (Portugal, 1999)
Datada de 1999, mas só exibida nas salas de cinema a partir de 2001, A Suspeita já marcou presença em vários festivais de animação, vindo a ser galardoada com 23 prémios a nível nacional e internacional. Este ano, veio ao MOTELX apresentar-nos uma curta de mistério.
Com bonecos de látex e resina e um humor muito português, esta foi a única animação com diálogo. A ação passa-se, praticamente na íntegra, dentro da carruagem de um comboio, com quatro personagens-tipo a interagir: um senhor posto por ordem a ler o jornal, uma senhora anafada com vários sacos, sandes e o seu tricô, uma jovem bonita bem-vestida, e um rapaz de mochila com um leitor de cassetes e um canivete de Barcelos.
Quando o revisor entra para pedir os bilhetes, já pairava no ar a desconfiança de que o Assassino dos Comboios estaria entre eles e que, provavelmente, não chegariam todos ao fim da viagem.
A mensagem é desconfiar de estranhos, mas mesmo nessa desconfiança podemos ser apanhados de surpresa, pois as pessoas nem sempre são o que parecem ser.
A Suspeita soube proporcionar bons momentos de suspense e de comédia, com um argumento muito bem elaborado, embora um espectador mais atento consiga perceber quem é o assassino um pouco antes do pretendido.
Undiscovered, de Sara Litzenberger (EUA, 2017)
Todos sabemos que é difícil apanhar o Pé Grande nas fotografias. O motivo para tal não é o que pensávamos.
Misturando cores vivas, originalidade, humor e uma boa banda sonora, esta curta de terror fofíssimo apresenta-nos um monstro amoroso, de sorriso desdentado, mas que mesmo assim assusta os exploradores da Natureza. Porque será? Estamos perante o segundo mistério que esta sessão de Sustos Curtos nos propõe desvendar.
Somni, de Sonja Rohleder (Alemanha, 2023)
«Somni é uma canção de embalar cinematográfica», uma curta-metragem harmoniosa que desperta a nossa imaginação e nos leva para o mundo dos sonhos.
A sensação é a do colo da mãe quando estamos prestes a ir para a cama, embalando-nos com sons suaves e cores no mundo de um macaquinho que desliza suavemente de folha em folha até adormecer.
Pode dizer-se que o terror surge quando o mundo do macaquinho escurece e aparecem criaturas e formas misteriosas no seu caminho, mas é demasiado fugaz para pensarmos nesta curta como um Susto Curto ou algo que desperte medo numa criança.
Blèh, de Tim Alards (Países Baixos, 2021)
Um menino faz cinco anos e a mãe leva-o à pastelaria para escolher o bolo. No caminho, a criança apercebe-se de que as pessoas estão a sofrer uma espécie de contágio. Um vírus transforma-as em zombies cada vez que olham para o telemóvel.
A animação explora muito bem um problema atual que aflige a nossa sociedade. Através da metáfora de pessoas a transformarem-se em mortos-vivos quando olham para o ecrã, fazemos o paralelismo com as novas tecnologias que nos roubam a vida, que nos tornam dependentes e desatentos, levando-nos a cometer erros que podem ser catastróficos. A verdadeira chamada de atenção está no final, e vai deixar-vos incomodados.
Camille, de Denise Roldán (México, 2023)
Camille é uma menina tímida que se sente sozinha na escola. Um dia, quando está no recreio a lanchar, percebe que os cupcakes que faz com a mãe e o gato Muffin podem ajudá-la a fazer amigos. No fim de contas, há alguma criança que não goste de doces?
Uma situação que parecia simples, contudo, ganha contornos exagerados. Camille vê-se perante um «problema volumoso». Terá de fazer cada vez mais cupcakes, montanhas deles, para agradar aos amigos. E, quanto mais eles exigem, mais ela se sente consumida e sozinha.
Existe uma expressão portuguesa muito popular que se adequa perfeitamente a esta animação: «Damos a mão, mas querem o braço também». Esta é uma realidade que se aprende cada vez mais cedo. Temos de aprender a dizer «não» a quem quer abusar de nós e sugar-nos a energia.
A banda sonora melancólica acompanha na perfeição esta curta de terror social, e o final chega de uma forma subtil, de modo que só um adulto compreende na totalidade o trágico destino de Camille.
Behind the Beard, de Noel Winzen e de Marc Angele (Alemanha, 2017)
Depois do peso emocional da animação anterior, Behind the Beard contribuiu para animar a sala com as desgraças de um pequeno castor que vive na barba de um homem. Enquanto o animal rechonchudo tenta cortar pelos para fazer uma barragem, é sistematicamente interrompido por imprevistos desencadeados pela manutenção que uma barba grande exige.
As reações hilariantes e os sons do pequeno castor perante o seu infortúnio fizeram desta curta-metragem a mais cómica da sessão. No meio das gargalhadas, não há como não sentir empatia pela frustração do bichinho.
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Marta Nazaré
Marta Nazaré, nascida em Lisboa, a 5 de março de 1981, é formada em Letras e Tradução de Inglês. Dedica-se a tempo inteiro à tradução de livros infantojuvenis e à legendagem de filmes e séries.
Descobriu o terror em tenra idade na papelaria do bairro que vendia a coleção «Arrepios», de R. L. Stine. Ainda hoje, o terror infantojuvenil é o seu género preferido.