MOTELX 2024: Críticas às Curtas Portuguesas
Quinze minutos de terror em português.
Umbral foi distinguido com uma Menção Especial e O Procedimento ganhou o prémio de Melhor Curta de Terror Portuguesa 2024.
Nem sempre a seleção de curtas-metragens portuguesas em competição para o prémio de Melhor Curta de Terror Portuguesa acerta no alvo. O nosso, dos fãs, entenda-se. Confiamos que, se chegaram aos dez finalistas, foi porque se destacaram dos outros. No entanto, na 18.ª edição, mesmo que houvesse um ou outro «deslize» técnico (só pelo que nos mostrava o trailer), estávamos convencidos de que nos íamos render às narrativas (não é sempre pela história que vale a pena ir ao cinema?). Nem todos os filmes nos encheram as medidas, o que é natural e em nada deve desmoralizar os realizadores. Um ponto importante: este ano, metade dos filmes foram realizados ou correalizados por mulheres — sim, ainda temos de agitar essa bandeira.
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Por Cláudio André Redondo, Maria Varanda e Sandra Henriques
O Procedimento, de Chico Noras
Melhor Curta de Terror Portuguesa 2024
Quem viu Por um Punhado de Trocos reconheceu de imediato O Procedimento como um «filme Chico Noras». A arte, a fotografia e o humor cáustico estão todos lá. E a fantástica interpretação de Paula Só como Maria Eugénia também. Este filme só pecou por ter pouco terror (fazendo o mero exercício de compará-lo com os outros), mas convenceu o júri do 18.º MOTELX.
Umbral, de Miguel Andrade
Menção Especial
A curta-metragem da autoria de Miguel Andrade parte dos princípios das emoções reprimidas da teoria psicanalista e pretende explorar o campo moral cinzento da influência dos traumas de infância sobre os comportamentos criminosos da idade adulta. Bastante artística na sua construção cinematográfica, e para lá de original no seu argumento, Umbral surpreende nos seus 14 minutos e apresentava-se como um potencial candidato a vencer o prémio de Melhor Curta de Terror Portuguesa. Apesar de não ter sido o filme vencedor, não passou despercebido, o que lhe valeu uma Menção Honrosa.
Holofote, de Camilla Ciardi
Para um filme curto, talvez seja demasiado slow burning, mas o desempenho da protagonista é irrepreensível. Uma história surrealista sobre as ansiedades de quem está a dar os primeiros passos numa carreira artística, mas que acaba por ter um final feliz (na cabeça da personagem principal). Mais psicológico do que físico, é um terror que se entranha na pele. O argumento é de Tiago Matos, vencedor do Prémio MOTELX Guiões de 2023, com Trauma.
Santanário, de João Pedro Frazão
Debruçando-se sobre o extremismo religioso e o que o homem é capaz de fazer em nome da fé, Santanário expressa de forma bastante artística a dualidade da mente humana no seu conflito entre ID e Superego. Sendo uma curta metragem de época, o filme de João Pedro Frazão inclui uma série de adereços que acrescentam verossimilidade a uma excelente interpretação e expressão corporal de Dinarte Freitas e Ana Lopes. Carecendo apenas de mais equilíbrio nas cenas de propositada repetição — símbolo da decadência da sanidade —, Santanário é uma curta-metragem sem filtros e sem medos na expressão do terror dos actos humanos.
Menor que Três, de Cláudio Monteiro, Dan Martin, Mariana Cabecinha e Sofia Pessoa Pádua
Um filme de terror psicológico sobre pesos, coisas que não avançam, bagagem e como uma mulher pode viver com isso. Valeu pela originalidade do argumento e pelo desafio de filmar as cenas com o «peso morto» às costas (literalmente) da protagonista.
Parem de Olhar Para Mim, de Carolina Aguiar
Este filme explora a sensação de estarmos a ser observados e dos medos que isso traz. Um filme com uma boa fotografia e diálogos bem escritos, que nos coloca na perspetiva do observador que segue e, de certa forma, viola a privacidade de quem é observado. Uma abordagem diferente a este tema que, no fim, nos deixa a pensar sobre o assunto.
Penrose, de Alessandra Roucos e Maria Teresa Teixeira
Este filme faz do estranho a sua maior arma. O protagonista passa pela primeira vez uma noite no seu novo apartamento. Gotas de água fazem com que se levante e vá tentar perceber o motivo. Com isso, acaba por conhecer os seus vizinhos, cada um mais estranho do que o anterior, assemelhando-se a criaturas fantásticas que assombram aquele prédio e levando a que ele próprio se aproxime perigosamente da loucura em que os outros parecem viver. Um filme com uma fotografia e cenografia excelentes, com personagens únicas e originais, magistralmente representadas por cada um dos atores.
After Link, de Catarina de Cèzanne
Um filme com uma premissa interessante, que nos leva a questionar se se trata de uma investigação sobre extraterrestres, ou algo diferente, relacionado com as próprias personagens. Tem um bom potencial, mas algumas escolhas em termos de execução são estranhas, como o facto de as personagens tão depressa falarem em português como em inglês uma com a outra — entre outras questões técnicas que deixam a dúvida de terem sido propositadas ou não.
Putto, de Carlos Calika
Escrito e realizado por Carlos Calika, este filme de ação conta a história de Putto, um assassino profissional conhecido como «o fantasma», que no decorrer do seu último trabalho se vê no dever de ajudar uma mulher, vítima do seu alvo. Isso leva a que ele próprio se torne um alvo e tenha de tomar medidas para se proteger. Uma curta que teria beneficiado de um orçamento maior, mas que mesmo assim não teve medo de arriscar. Conta ainda com o facto de o ator escolhido para desempenhar Putto, Leigh Gill, seja anão, o que torna a personagem do melhor assassino do mundo ainda mais interessante.