Crítica a «Ficheiros Secretos à Portuguesa», de Joaquim Fernandes
Se, como eu, sempre tiveste pena de não existirem OVNI e aliens em Portugal, talvez esteja na altura de leres este livro.
Ficheiros Secretos à Portuguesa — Avistamentos de OVNIS, Fenómenos «Impossíveis» e Outros Casos à Espera de Explicação é o título desta obra que se dedica a analisar alguns dos casos mais relevantes sobre fenómenos (alegadamente) alienígenas por terras lusas.
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16.50 € (com IVA)A obra de Joaquim Fernandes dedica-se a diversos eventos inexplicáveis, ocorridos em terra, ar ou mar, que de alguma forma tenham deixado as suas testemunhas confusas, bem como as possíveis explicações para os eventos e as ações tomadas pelas entidades oficiais.
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É possível que muitos de vocês tenham contactado com um famoso programa do Canal História, de nome Ancient Aliens (Alienígenas, em português), que conta com umas estrondosas 20 temporadas e um apresentador convicto de que o Milagre de Fátima não passou de um dos melhores exemplos de contacto com seres alienígenas.
Mas, curiosamente, sempre que nos debruçamos sobre o assunto, as referências parecem focar-se em histórias passadas nos Estados Unidos da América e em eventos dignos de um episódio de X-Files, com direito à banda sonora e tudo.
Portugal parece, à superfície, estar imune a este tipo de ocorrências — não só não se ouve falar em extraterrestres como raramente estes são mencionados em programas de televisão ou artigos na Internet. Joaquim Fernandes, porém, cofundador do Centro Transdisciplinar de Estudos da Consciência e autor da tese de doutoramento O Imaginário Extraterrestre na Cultura Portuguesa — do fim da Modernidade até meados do século XIX, sempre pugnou por investigar mais sobre o assunto.
Ficheiros Secretos à Portuguesa é uma obra que pretende compilar um conjunto de eventos de relevo e que promete surpreender os seus leitores.
Com uma estrutura mais académica do que de obra literária, o livro de Joaquim Fernandes elenca um conjunto de situações maioritariamente a partir dos anos 60, munindo-se de excertos de entrevistas, relatórios oficiais, fotografias e recortes de jornais para ilustrar o descrito.
Realça-se que não é uma obra que apresenta respostas — porque não as há —, pretendendo, em vez disso, criar quase uma base de dados do fenómeno alienígena em Portugal, permitindo perceber que, contrariamente ao que se poderia julgar, Portugal também foi palco de diversos eventos inexplicáveis que marcaram profundamente as suas testemunhas.
Muitos casos parecem mesmo estar relacionados com as bases militares nos Açores ou foram reportados por pilotos de avião (militares ou civis), o que se enquadra bastante bem na experiência internacional, mas existem diversas ocorrências descritas que foram assistidas por várias pessoas e, às vezes, até por vilas inteiras. Tendo sempre vivido na área do Ribatejo, confesso que fiquei chocada com a quantidade de eventos que tiveram lugar em terras ribatejanas.
Curiosamente, percebe-se que o boom de atividade OVNI coincidiu com o americano, com o surgimento dos filmes e das reportagens jornalísticas, mas muitas vezes com características extremamente particulares. Alguns dos casos relatados levaram-me mesmo a uma pesquisa profunda sobre a informação, na tentativa de perceber até que ponto poderia haver ou não uma explicação plausível para tais ocorrências ou a eventual existência de experiências semelhantes no resto do mundo.
É também curioso verificar que, se por um lado, parece haver um claro interesse na matéria durante as décadas analisadas, mesmo durante o Estado Novo (comprovável por todas os artigos de jornais dedicados ao tema), por outro, parece que a falta de abertura e desenvolvimento associado a essa época terá, possivelmente, criado obstáculos à exploração deste conceito por terras lusas.
Mas, tal como referi, a obra não nos apresenta respostas — pelo contrário! É importante perceber que Joaquim Fernandes não pretende, em momento algum, provar ou desmistificar o relatado, mas sim analisar o que foi descrito pelas testemunhas, as possíveis explicações apresentadas (ou não), realizar alguma comparação entre o modo como Portugal e os Estados Unidos reagiam a estes assuntos e, em último caso, lamentar uma atitude pouco visionária por parte dos intervenientes que, recorrentemente, por negligência ou desprezo, impediram uma busca pela verdade objetiva (mesmo que esta viesse a negar a atividade alienígena).
Não sendo necessariamente uma obra empolgante, é algo que se lê com bastante facilidade em poucos dias e que permite desviar o véu da relação portuguesa com este tipo de eventos.
A única coisa que teria a apontar seria, talvez, o facto de achar o seu final abrupto: temos os últimos casos, o epílogo e nada mais. Gostaria de perceber, por exemplo, por que motivo a maioria dos casos parece ocorrer entre os anos 60-70 ou por que razão os casos contemporâneos (ou pós-anos 90) são em tão pouco número (apenas dois ou três) — não é claro para mim se há uma diminuição dos eventos no geral ou se os mesmos apenas foram reservados para uma análise posterior.
No entanto, não posso negar que Ficheiros Secretos à Portuguesa parece ter aberto todo um novo mundo para mim no que diz respeito à experiência em Portugal com OVNI e, atrevo-me a dizer, muitos dos relatos seriam uma excelente inspiração e ponto de partida para autores nas suas obras de ficção.
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Laura Silva
Apaixonada por histórias desde 1992, é escritora nas horas vagas e pasteleira aos fins-de-semana. O gosto pela leitura deu muito jeito para a licenciatura em Direito, mas agora é constantemente abordada por amigos e familiares para consultoria jurídica gratuita. Extremamente traumatizada em criança pelo Cadeirudo, acabou por aprender a gostar de todas as facetas da ficção especulativa, que hoje se revela o seu género favorito.