Crítica a Amelinda, de Miguel Gomes

Filme de terror português em antestreia mundial no Fantasporto 2022

 

De Cláudio André Redondo e Marta Nazaré 

 

Existe uma certa magia nos pioneiros que arriscam fazer uma obra de arte sem qualquer conhecimento. O espírito audaz, a coragem de enfrentar o desconhecido com nada mais do que a força de vontade e a ambição de fazer algo, de criar uma obra, deverão ser sempre motivos de elogio.

Dito isso, Amelinda é um filme com muitos defeitos. Os mais evidentes serão as falhas no argumento de alguém que nunca tinha escrito um, e o facto de os atores serem uma mescla de amadores com pessoas que nunca representaram na vida. Isso, infelizmente, nota-se. E, muito provavelmente, será o suficiente para que muitos não gostem do filme, ou até que o ridicularizem.


Mas é importante referir que Amelinda foi feito sem orçamento, por uma equipa muito reduzida de apaixonados pelo cinema que nunca tinham feito nada do género e cuja formação é na área da música. Por isso, iremos focar-nos no que está bem feito.



O filme tem uma fotografia surpreendentemente boa, com planos bem enquadrados e a saber aproveitar as linhas e os espaços dos cenários.


O tratamento de cor e a edição estão no ponto certo. A música, original por parte dos criadores do filme, e efeitos sonoros estão simplesmente perfeitos. E, finalmente, os efeitos especiais podem ser considerados muito bons para os padrões normais de um filme moderno. Excelentes mesmo, se considerarmos que foram todos efeitos reais, produzidos por pessoas que nunca tinham feito algo semelhante e que se limitaram a usar a imaginação.

O filme conta a história de uma casa assombrada por um espírito maléfico que jurara vingança a todos os descendentes de quem lhe fez mal. Tem algumas ideias originais e interessantes e só peca pelo facto de parecer incluir demasiados elementos que por vezes se perdem, ou que nem sempre fazem sentido. Acreditamos que beneficiaria muito se fosse mais conciso e focado no principal da história. Ainda assim, é uma história interessante, com vários elementos originais, que queremos conhecer até ao fim.

Amelinda não é uma longa-metragem perfeita e, para muita gente, será difícil ultrapassar as suas falhas. Mas considerando que foi feito sem dinheiro, no espaço de apenas nove meses e por pessoas sem quaisquer conhecimentos do que estavam a fazer, acumulando várias funções dentro do mesmo, é uma obra que não deixa de ser interessante de se ver. Nem que seja para se ver tudo o que de bom foi conseguido dentro dessas condições, para percebermos que é possível criar algo se acreditarmos muito nisso.


Por fim, fica a pergunta. Considerando que esta equipa reduzida foi capaz de fazer isto em tão pouco tempo, o que seriam eles capazes de fazer se tivessem dinheiro e uma equipa de profissionais para os ajudar a fazer mais e melhor?